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O Metro Do Amor Tóxico - Romance
O Metro Do Amor Tóxico - Romance
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O Metro Do Amor Tóxico - Romance


(© 1992 - 2019) (#ulink_4f7e5a0e-d06d-5e57-9a93-b622d1d21b3c)

I Capítulo (#ulink_4f7e5a0e-d06d-5e57-9a93-b622d1d21b3c)

Era 1 de Julho de 1969, uma terça-feira regressando no fim da tarde, tinha retirado um envelope grande no marco do correio. No momento tinha apenas observado que chegara via aérea duma desconhecida Alfio Valente Cultural Foundation – New York. Não tinha dado a devida importância àquele maço, sem pressa tinha subido em casa, um modesto apartamento no último andar dum velho prédio do centro histórico, pusera-me em liberdade e, finalmente, sentado na escrivaninha do quartinho que servia-me de escritório, tinha aberto o envelope. Tivera uma exaltante surpresa. Tinham-me atribuído o Brooklyn Alfio Valente Poetry Award pela minha obra poética traduzida e publicada nos Estados Unidos: um premio em dinheiro, nada menos de 5.000 dólares, um montante chorudo naqueles tempos; as despesas de estadia estavam pagas. Aqueles senhores americanos deviam nutrir grande confiança nos serviços dos correios, visto que não tinham-me advertido por registo internacional. Pediam-me, a assinatura do presidente Albert Valente, que tinha imaginado parente e teria sabido do filho defunto titular da Fundação, para confirmar telefonicamente a aceitação do premio e a minha presença à cerimonia da entrega. Tinha considerado, depois de ter dado uma olhadela no relógio e ter subtraído 6 horas às 17 e 38 minutos que marcava, que por causa da diferença do fuso horário em New York ainda era manhã. Tinha ligado para a central telefónica da única sociedade telefónica italiana daqueles tempos, a SIP, para que me conectassem à fundação: quanto à celeridade de chamadas internacionais, eram tempos de mamute, o utente devia recorrer a uma das telefonistas SIP e esperar que ela, depois de tantos minutos de espera como mínimo, no fim o conectasse com o distante numero graças a um circuito de comunicação operado a mão. Tinha pegado de novo e, esperando que o aparelho tocasse para advertir que estava em linha, tinha-me cozido ao fogo lento pela ideia do inesperado ganho que estava para chegar, realmente providencial porque a arte poética, como na sua natureza, não me rendia quase nada e vivia graças às contínuas colaborações num diário de Torino, La Gazzetta del Popolo, e à incerta posição de tradutor e editor duma casa editora, retribuído por empreitada por cada l4ivro. Pela verdade tinha também redigido um romance, potencialmente muito mais comercial que as obras em versos, e tinha até conseguido publicá-lo com a mesma casa editora de Torino pelo qual trabalhava, não sem o desgaste de umas tantas aproximações ao Khan dos Khan, como ousamos chamar entre nós o altivo e às vezes caprichoso proprietário: tinha tido muitos elogios da crítica, que não tinham enchido a minha carteira, e nenhum sucesso mercantil, tratando-se de “uma obra de prosa poética mais que dum romance narrado” como editor, já hesitante em publicá-lo, tinha-me enfim comunicado, frisando o tom sobre a última palavra. É bom que eu antecipe alem de mais, não apenas tratando-se dum caso ligado à minha miséria condição económica daqueles tempos mas porque, como veremos, se teria revelado dramático para mim e até fatal para muitos cidadãos dos Estados Unidos e da Itália, que seis meses antes de receber o premio Brooklyn Alfio Valente, ao desejar mais dinheiro teria colhido a improvisa ocasião a mim oferecida por um poderoso para compor-lhe e vender-lhe, por uma relevante soma, uma vintena de sonetos em honra da sua querida, poesias que ele tinha a declarada intenção de fazer passar por fruto do seu talento com a namorada. Digo sem hesitação, sinto ainda hoje amargura por ter vendido a minha arte e, por um conjunto de circunstâncias derivadas, até dignidade e liberdade, ainda que, como melhor narrarei no seu devido tempo, teria sido punido moralmente e fisicamente.

Enquanto esperava de ser posto em comunicação com a fundação, a alegria tinha-me reduzido imediatamente: lendo de novo com mais atenção a carta, tinha notado que a data da entrega dos prémios estava próxima, nem sequer uma vintena de dias, e tinha verificado logo depois que o meu passaporte tinha inspirado validade. Um arrepio longo na coluna, textualmente, depois um acesso de ira: porquê tinham-me avisado no último momento? ! Dirigido portanto uma olhadela à data da expedição no envelope, tinha percebido que a fundação não era a culpada pelo atraso, a carta tinha partido a partir de New York há mais de duas semanas. Eh, sim, mas pelo menos de não ter enviado como carta com valor declarado isso sim, culpado, tinha-as de todas as formas lançado idealmente; e logo depois estava possuído com o incógnito descuidado – dos correios? Dum aeroporto? – Cujo devia a sucessiva complicação; para terminar tinha-me questionado se poderia obter a tempo a renovação do passaporte no comando da polícia, apesar de tudo, e, considerado que os prudentes Estados Unidos tinham-me exigido também um visto consular preventivo, tinham-me respondido: quase precisamente não; mas eis que tinha-me fulgurado uma esperança: … mas sim, pedirei ajuda ao Vittorio!

Comandante adjunto da polícia, Vittorio D´Aiazzo servia no comando policial de Torino, onde mesmo eu tinha operado às suas ordens antes de demitir-se poucos anos antes. Era um queridíssimo amigo, ou melhor o único que poderia ter; e sabia dele que eu mesmo, ambos de alma reservada, era o único verdadeiro amigo seu.

Imagina um pouco, tinha-me cada vez mais confortado, se, vista a importância da coisa, não se prodigalizará!

Certo, mas como alguma vez um indivíduo tranquilo como eu, antes longe disso que levado a um ofício armado, tinha entrado na polícia? Uma pessoa que tinha-se dedicado à arte métrica e a frequentíssimas leituras desde as medias, inspirada pelas traduções de Iliade del Monti e da Odisseia de Pindemonte – medias - ginnasio daqueles tempos -, um homem desejoso de alcançar a licenciatura em letras? Muito em breve dito: o clima familiar dos anos ᶦ40 do passado século era bem diferente daquele actual, era imprescindível pois para um rapazito o respeito da vontade de pai e mãe, e os meus pais não tinham-me absolutamente permitido de seguir aos ambicionados estudos clássicos e, com o seu sacrifício grande e enorme incompreensão, tinham-me encaminhado ao liceu secção de ciências, ilusão de fazer-me engenheiro e dedicar-me na mesma indústria automobilística da cidade onde trabalhavam eles mesmos como operários. Eu odiava a matemática e disciplinas científicas e tinha negligenciado aqueles estudos, tanto até para repetir o primeiro e o terceiro ano. Quase com os seus dezanove pois, lá para o meio daquele mesmo terceiro ano repetido, era 1952, não desejando sobrecarregar alem dos seus pais que estavam sacrificando-se inutilmente, tinha abandonado a escola e tinha entrado na Policia de Segurança Publica, como se chamava naquela altura a policia, desempenhando antes o serviço militar e depois ingressando no quadro permanente. Só muitos anos depois, expulsando o medo de ficar sem dinheiro tinha-me finalmente demitido, não deduzido o facto de ter que ganhar o grau e o melhor salário de vice brigadeiro. Permanecia aquela, efectivamente uma actividade que, com o seu perigo e os seus desordenados horários, estorvava a minha paixão pelas letras. Tinha sido movido de ter tido um discreto sucesso. Desde Dezembro de ᶦ57 tinha publicado o meu primeiro livro de líricas junto duma grande editora – revelarei depois o mistério dum acontecimento tão improvável – com sucesso da critica e a atribuição à antologia do celebre premio Versilia, secção estreia, graças a qual tinham-se vendido nada menos que trezentos e vinte e cinco copias; coisa muito importante, seguidamente ao premio tinha obtido, como jornalista publicista, colaborações literárias na Gazzetta del Popolo (jornal do povo) de Turim e a um par de notas semanais, com o crescimento da minha notoriedade. As minhas demissões tinham-me trazido posteriores frutos. Graças ao repleto tempo e as minhas frequentes colaborações, tinham sido publicados um poema e outras duas antologias de versos, estas compostas no decurso dos anos precedentes, àquele depois da minha demissão, e os meus versos tinham sido traduzidos em inglês e francês e publicados nos países europeus anglófonos e francófonos, nos Estados Unidos e em Canada. Sem largar o serviço, a vida de Ranieri Velli, a minha vida, provavelmente teria continuado a desenrolar duma à outra investigação sob as ordens do amigo, naquele tempo comissário, Vittorio D’Aiazzo, com poucas pausas de alegria literária, e não teria alcançado a verdadeira fama; pelo contrário contudo, não me teria encontrado nos últimos meses de ᶦ69, como veremos, entre os tristes protagonistas dum caso criminal internacional, pelo qual a Itália teria arriscado de cair, ainda uma vez, sob um regime ditatorial.

Tinha tocado o meu telefone. Era a comunicação com New York. Conhecia bem a língua inglesa, graças não só à escola mas a um curso intensivo de aprendizagem em Londres, muito cheio de termos judiciários, cujo tinha sido encaminhado pelo Vittorio num intercambio com oficiais inferiores de Scotland Yard. Não tinha tido nenhuma dificuldade em deixar-me compreender pela interlocutora americana: tinha pedido para falar com o senhor Valente explicando o motivo da chamada; não estava na sede e tinha-me passado a uma dirigente, lhe tinha confirmado a aceitação do premio e a minha presença à cerimonia da entrega dos prémios; e pelo menos esta tinha sido feita.

Agora a questão de fundo, o passaporte.

II (#ulink_4f7e5a0e-d06d-5e57-9a93-b622d1d21b3c)C (#ulink_4f7e5a0e-d06d-5e57-9a93-b622d1d21b3c)apítulo (#ulink_4f7e5a0e-d06d-5e57-9a93-b622d1d21b3c)

“Oh amicíssimo! Come é que vai a tua investigação sobre a poesia?” tinha-me saudado expansivo o doutor D’Aiazzo no seu forte sotaque napolitano, depois que tinha conseguido tê-lo em linha a partir da central telefónica do comando policial.

“O premio chegou e poeta exige” tinha respondido com um improvisado hendecassílabo engraçado; e tinha precisado: “venci um premio importante em New York.” Em tom comparticipante tinha-se felicitado, pois, intercalando alguma palavra no seu dialecto como às vezes fazia, e interpelando-me com o diminutivo que ele mesmo tinha a seu tempo inventado, tinha-me questionado: “va bbuo’

, Ran, felicitações a parte, o que precisa o´ poeta?



“Seria pela data da entrega do premio que está próxima e pelo meu passaporte expirado.”

“Não há problema. Deixa-mo ter aqui com os selos e as fotos e mando preparar rapidamente, que não é por nada em italiano faz quase rima com o meu apelido D’Aiazzo, acentos a parte. Ou melhor não, faz assim: na hora do jantar traga tudo na minha casa, as 20 horas! E assim comer um prato dum bom esparguete e dois pedaços de carne.”

“Óptimo, obrigado.”

Justamente naquela noite tinha sofrido a primeira agressão. Tinha pensado num assalto dum marginal e só a uma segunda tentativa de querer acabar comigo, não muitos dias antes do voo para New York, teria percebido que alguém me queria ver morto:

Saindo de casa para dirigir-me ao jantar em casa do amigo, antes que pudesse fechar à chave a porta apareceu à minha frente um homem, a uma distância de quatro metros em relação a mim no patamar, rosto escondido por um passa-montanha e luvas nas Dum aeroporto? – Cujo devia a sucessiva complicação; para terminar tinha-me questionado se poderiamãos, que tinha-se atirado imediatamente contra mim com uma navalha aberta no punho e tinha tentado de assestar-me um golpe na garganta. O golpe não tinha-me atingido porque eu, com um movimento de artes marciais que aprendera na polícia de segurança pública, tinha bloqueado no meio o arco da lâmina e desarmado o braço criminoso deixado cair a navalha no chão; logo depois, tinha pisado muito bem o agressor na cabeça, na cara e no tronco e tinha-o deixado escapar pelas escadas: era jovem naqueles tempos, ágil e atlético e, coisa não insignificante, muito alto, 1 metro e 90, enquanto aquele indivíduo era de média estatura, por isso, mirando a garganta, tinha atingido de baixo para cima com não plena força. Não tinha julgado prudente segui-lo. Tinha recolhido e posto no bolso a navalha para levá-la a Vittorio, trancada a porta de casa e descera pelas escadas cauteloso evitando o elevador.

Como tinha pois esperado, do indivíduo nenhuma pista.

Tinha contado bruscamente ao amigo a minha desgraça, portanto lhe tinha entregado a lamina do agressor.

Tinha comentado: “são cada vez mais comuns os assaltos iniciados a partir do exterior, talvez quisera bater a porta e depois entrar sob ameaça daquela navalha para derrubar-te, mas foi surpreendido pela tua imprevista saída no patamar e, temendo que tu fizesse barulho, perdeu a cabeça e atirou-se contra ti, procurando fazer-te calar para sempre cortando a tua garganta. Porque inimigos mortais, tu não os tem, não é?”

“Não acredito mesmo.”

“Portanto deveria ter sido uma tentativa de assalto. Disseste que tinha luvas, por isso na da de impressões digitais se não as tuas. Mascarado, entretanto nenhum detalhe do rosto, a parte os olhos descobertos: observaste a forma e a cor? E diga-me: era alto, baixo, magro, gordo? Navalha no punho direito ou esquerdo? E disse para ti alguma coisa?”

“Não, nem sequer uma palavra, navalha na direita, os olhos não os notei no frenesim da defesa, era alto em cima de um metro e setenta e cinco, magro mas tinha os ombros largos e é certamente de bom aspecto e forte porque fugiu rapidamente pelas escadas ainda que o tinha enchido de pontapés.”

“Já é alguma coisinha, mas dificilmente o encontraremos, imagino que não seja muito parvo para deixar-se tratar no hospital, de todas as formas depois da tua denúncia poderemos investigar os postos de socorro; muito inteligente pois não deve ser, porque se não, não te teria assentado logo um golpe com o risco de acabar dentro por uma questão de sangue, te teria apenas ameaçado a uma certa distância mandando-te para voltar a entrar em silêncio ou simplesmente, teria escapado sem ter feito nada.”

“Hm… sim.”

“Ran, amanhã de manhã venha no comando policial para a denúncia; mas tu percebes que será um pouco difícil que o encontremos, chillo cattamàro

.”

Visto que nada me tinha sido roubado, tinha decidido de interromper.

III (#ulink_4f7e5a0e-d06d-5e57-9a93-b622d1d21b3c)C (#ulink_4f7e5a0e-d06d-5e57-9a93-b622d1d21b3c)apítulo (#ulink_4f7e5a0e-d06d-5e57-9a93-b622d1d21b3c)

A amizade com Vittorio D’Aiazzo nascera em Genova, ele comissário no comando policial e meu superior directo, eu como agente e depois seu assistente segundo sargento promovido por mérito, tendo salvado a vida dum poderoso ministro, o honrado professor Nuto Marradi: num dia do princípio de Fevereiro de 1957, eu, Vittorio, e dois dos meus colegas tínhamos sido delegados para proteger o homem político, a partir do momento do seu desembarque no aeroporto da cidade de Lanterna, lá para as 10 da manhã, no seu voo de regresso à tarde. Um certo aristide Maria Barani, indisciplinado já como funcionário ministerial e depois anarco - individualista clandestinamente, tinha tido a infeliz ideia de matá-lo precisamente naquela ocasião; sei lá e por quem tivesse tido a noticia.

Nós tínhamos ficado à espera de Marradi na zona do aeroporto onde, como programado, o avião DC3 Alitalia sobre o qual tinha embarcado teria paralisado os motores, e tínhamos prontamente aproximado ao avião quando tinha sido aberto a portinhola de desembarque.

Enquanto o comandante tinha pedido aos outros passageiros para permanecer aos seus lugares até ao novo convite, o ministro tinha descido com os dois agentes da sua escolta pessoal. A este ponto o terrorista solitário, disfarçado por um fato-macaco de servente, tinha aparecido correndo por detrás dum tractor para reboque das bagagens na mão com a soviética Tokarev TT-33 calibre 7,62, pistola pouco precisa mas precisamente fiável quanto aos eventuais encravamentos, e lhe tinha lançado contra à garibaldina gritando para ele: “porco ladrão patife!” não estando ainda próximo do alvo, lhe tinha disparado uma primeira bala, para o ar. Eu estando de retaguarda no nosso grupinho e o mais próximo do atirador – lembro sempre a sequencia como se tivesse sido um sonho – com um tiro da minha pistola Beretta de ordenança M34 calibre 9, também ela imprecisa, por isso certamente tinha contribuído bastante por sorte, tinha ferido o homem numa perna partindo-lha e deixando-o desmoronar no chão; depois rapidamente, com um pontapé, tinha-o desarmado. Vittorio, ao contrário de mim, estava no comando da nossa equipa e o mais próximo do ministro, a parte a sua escolta pessoal, onde sem a minha intervenção teria sido não improvavelmente atingido por um dos sucessivos tiros do anárquico.

O confuso Aristide Maria Barani não teria sido condenado à máxima pena, não obstante o atentado massacre, tendo sido julgado momentaneamente atingido por uma enfermidade parcial da mente no momento de cometer o facto, uma vez que, durante o internamento no hospital pela ferida, tinha resultado sobre as sequelas duma bebedeira: devia ter bebido para encorajar-se e precisamente o álcool devia tê-lo levado a agir sem vantagem; pois tinha fracassado não com o meu grande mérito. De todas as formas, um mês depois tinha chegado a partir de Roma a minha promoção a primeiro-sargento, por directa intervenção de Marradi, como teria corrido a palavra no escritório pessoal do comando policial.

É escusado que tenha sido bastante grato àquele ministro revelando-se capaz de actos reconhecidos. Todavia o terrorista não tinha falhado juízo sobre ele, o homem tinha pois realmente desvendado um “ladrão patife”: em 1967, tinha estado envolvido num escândalo clamoroso, segundo o jornal L’unita e outra imprensa social comunista em seguimento a manobras secretas de ambientes económicos arruinadas por certas suas políticas. A mesma força da oposição tinha mesmo aventado que ele pudesse ter tramado mais vezes anteriormente, sendo um secretário do estado de longo curso que tinha participado, como cabeça dos mais diferentes ministérios, em quase todos os governos das Republica, desde aqueles do centro dos anos ʹ50, até ao gabinete do centro-direita de 1960 apoiada a partir do exterior pelos neo-fascistas, até alguns do centro sucessivos e, até frequentar a partir de ʹ63 àqueles de centro-esquerda. Certamente é que ele tinha-se tornado cada vez mais poderoso ao decorrer dos anos. Pelo menos pelas últimas asneiras, depois que a imprensa as tinha descobertas e denunciadas à opinião pública, tinha sido posto em estado de imputação pelo parlamento reunido em sessão comum na base do artigo 96 da constituição, relativo aos delitos cometidos por membros do governo: ele apenas, ainda que a oposição tinha manifestado a suspeita que os culpados tivessem sido muitos e “todos da área governativa”. Antes que a câmara e o senado tivessem concedido a autorização para proceder à magistratura, o Marradi tinha tentado fugir para o exterior mas, na tentativa, tinha morrido num acidente aéreo, e isto tinha alimentado a grave suspeita que tivesse sido por cúmplices para que fechasse a boca para sempre.

Em 1968 a Itália da hegemonia democrata-cristão e depois democrata-cristão e socialista tinha começado a ser gravemente contestada, tinham começado greves em cadeia e tinha surgido o chamado movimento estudantil: para todos os manifestantes os governos de centro-esquerda eram para considerar-se nada mais que escravos dos patrões, quanto aos partidos de centro-direita, liberais inclusos, todos simplesmente fascistas. A contestação teria activado uma formidável mudança nos costumes da população, que desde então tinham permanecido em substancia aqueles das décadas precedentes baseados nos valores fortes da moralidade cristã até, pelo menos de fundo, para os ateus declarados.

Estava no tal circuito que se preparava a aventura que estava para enfrentar ladeado pelo amigo Vittorio, durante a qual teria aferido, entre outros, também o nome do defunto ministro Nuto Marradi.

IV (#ulink_4f7e5a0e-d06d-5e57-9a93-b622d1d21b3c)C (#ulink_4f7e5a0e-d06d-5e57-9a93-b622d1d21b3c)apítulo (#ulink_4f7e5a0e-d06d-5e57-9a93-b622d1d21b3c)

O D’Aiazzo era um homem dos seus cinquenta anos robusto mas não alto, em torno de um metro e sessenta e cinco. Arvorava uma cabeleira morena e encaracolado ainda espesso mas que, em 1969, começava a cair à calvície no topo da cabeça, configurando um princípio de coroa. Talvez para contrabalançar, há algum tempo tinha deixado crescer a barba. Era um herói da resistência anti-nazista, o meu amigo Vittorio: em 1943, muito jovem comandante adjunto, tinha sido um dos combatentes durante a primeira insurreição ante alemã da Europa, os chamados quatro dias de Napoli

, onde a sua cidade tinha-se libertado sozinha das ocupações alemãs, durante as quais vieram muitos mais polícias do comando policial napolitano, entre os quais o assistente directo naquele tempo do D’Aiazzo, um certo primeiro-sargento Marino Bordin, de que ele falava com admiração. Não obstante a alegria externa, Vittorio era uma pessoa fundamentalmente triste. Poucos meses depois a tentativa do assassínio do Marradi meu amigo, que tinha casado em Maio do ano anterior com uma mulher muito jovem, uma dos seus dezoito anos filha dum colega, conhecida no baile anual das debutantes, ficara vítima dum grave dissabor conjugal. Tinha contido dentro a sua dor durante muito tempo até que, um dia da primavera de 1958 em que devia ter-se sentido particularmente desconfortado porque calhava com o segundo aniversário do seu casamento, tinha-se confidenciado comigo, “com o meu poeta e amigo preferido”: tinha acontecido um ano antes que a sua jovem mulher tivesse conhecido um rico importante americano, que estava em Genova para os seus negócios, e que tivesse fugido com ele para New York, obtendo na América a dissolução do casamento e casando uma outra vez pouco depois com o amante, como tinha sido comunicado a Vittorio por via epistolar pelo advogado do casal, incumbido por ela. Na Itália não havia ainda o divórcio por isso Vittorio tinha permanecido casado com a “traidora”; mas uma vez o amigo dissera-me, enfim prestamos ambos serviço em Torino, que se mesmo tivesse havido o divórcio, como católico praticante – tinha pronunciado num tom solene a ultima palavra – não teria a vontade de pedi-lo. “Mas”, tinha acrescentado, “infelizmente” ele tinha “vocação ao casal”. Em suma, não obstante o seu conclamado catolicismo, não tinha conseguido durante muito tempo ficar sozinho, como tinha logo percebido.

Naquela noite ao jantar na sua casa, um apartamento na avenida Cernaia em frente da caserna dos policias homónima e não distante do comando policial da avenida Vinzaglio, nos tinha servido e, já como habito, entre um prato e outro tinha sentado connosco na mesa uma loira com aproximadamente vinte e nove anos, Carmen, formosita simpática e bonitona ainda que iletrada e de não ampla mente, que sabia exercitar para o amigo, além das funções de governante, mais intimas funções. Enfim no longínquo 1959, na ocasião do primeiro convite para o jantar de Vittorio depois da nossa transferência de Genova para Torino, ele tinha-ma apresentado na única primeira aparência e ela, para aquela vez não tinha sentado connosco; mas pela atitude confidencial que de todas as formas mostrava, tinha suspeitado. “A guagliona

, é do meu Napoli”, tinha-se revelado já aquela vez o amigo, embora com um certo embaraço, no momento em que Carmen estava na cozinha a preparar o café: “é uma órfã sem ʹna

lira que me mandaram papá e mammà

como governanta domestica: talvez já te disseram quando chegara” – tinha anuído - : “francamente, estava farto de pizzarias; e mesmo de estar… sozinho. Ela tem dezanove anos… hm… como a minha mulher quando me deixou. Eu tenho já quarenta. Contudo, sabes como é, assim aconteceu, que um pouco depois enfim… pois, percebeste. O problema é… que é ainda menor de idade

; por isso guarda para ti a sua idade”: não pudera conter um sorriso desajeitado; depois: “está bem, eu sei que estou a fazer mal, que como católico deveria fazer o casto e mesmo que esteja talvez aproveitando um pouco demasiado desta guagliona, embora ela parece-me bastante contente do meu afecto e mesmo do meu… bem, percebeste em que me refiro. Não sei, espero que de todas as maneiras o senhor tenha compaixão e perdoe-me.”

“Imagino”, tinha feito eco mecanicamente, sem ter-me dado conta de ter alimentado as suas dúvidas, sobre as quais se teria atormentado durante anos. Enfim as teria manifestado, na ocasião dum penoso acontecimento de que direi mais adiante. Tinha acrescentado: “certo, para vocês católicos é uma vida repleta de problemas, para mim já existe tantos assim outros na vida que, pelo menos aqueles religiosos, os têm sempre omitidos.”

“Não és crente justamente por nada?” tinha-me interrogado seriamente.

“Mas uma vez era totalmente ateu. Não sei… agora”, respondera hesitante: “às vezes… mas definitivamente, creio naquilo que vejo; e na poesia.”

“… E quem te manda a poesia?” tinha-me acossado, “a musa… como se chamava antes? Ah, sim, Calliope.”