CASTRADO
PAULO NUNES
Copyright © 2021 Paulo Nunes Ltda
O autor publica a versão completa em e-book com exclusividade em Kindle Direct Publishing, unidade de publicação de livros eletrônicos da amazon.com.br, em 29 de abril de 2021. Nenhuma versão anterior, partes ou capítulos isolados desta obra foram publicados na internet ou distribuídos gratuitamente anterior a esta data. O autor publicou a versão completa para a impressão na plataforma de autopublicação da uiclap.com em 29 de abril de 2021. O livro está disponível em e-book em amazon.com.br, e em papel em loja.uiclap.com.
TÍTULO ORIGINAL
Castrado
IMAGEM DE CAPA
Ester Costa / E-mail: estercosta.capas@gmail.com
Victor Castro / E-mail: victor.castro@hotmail.com
PREPARAÇÃO
Paulo Nunes
REVISÃO
Ariel Pulsz / E-mail: arielpulsz@hotmail.com
Ítalo Moraes / E-mail: itlpsicologia@outlook.com
Paulo Nunes / E-mail: escritorpaulonunes@gmail.com
Ricardo Ondir / E-mail: contato@revisorondir.com
Wescley Jorge / E-mail: wescleyjorge@gmail.com
DIAGRAMAÇÃO
Epn7 / E-mail: escritorpaulonunes@gmail.com
Paulo Nunes / E-mail: escritorpaulonunes@gmail.com
ASIN
B08GJSBZ1R
ID DE DIREITOS AUTORAIS: DA-2021-008703
ISBN: 978-65-00-21347-8
FICHA CATALOGRÁFICA:
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Nunes, Paulo
Castrado / Paulo Nunes. -- 1. ed. -- Canela, RS :
Paulo Nunes, 2021. -- (Meu irmão ; 2)
ISBN 978-65-00-21347-8
1. Ficção brasileira 2. Ficção de suspense
3. LGBTQIA - Siglas I. Título II. Série.
21-63369 CDD-B86
Índices para catálogo sistemático:
1. Ficção : Literatura brasileira B869.3
Maria Alice Ferreira - Bibliotecária - CRB-8/7964
EDIÇÃO DIGITAL E EM PAPEL
2021
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS A PAULO NUNES
E-mail: escritorpaulonunes@gmail.com
Tel./WhatsApp: +55 54 9 9707 8071
Redes sociais: @escritorpn7
SUMÁRIO
CAPÍTULO UM
CAPÍTULO DOIS
CAPÍTULO TRÊS
CAPÍTULO QUATRO
CAPÍTULO CINCO
CAPÍTULO SEIS
CAPÍTULO SETE
CAPÍTULO OITO
CAPÍTULO NOVE
CAPÍTULO DEZ
“Um livro perturbador que escancara o
universo humano doentio, forjado
pelas marcas do passado.”
Wescley Jorge. Jornalista.
“Castrado é a continuação de uma história
envolvente e cheia de desdobramentos
arrebatadores. A diferença é que essa
segunda obra de Paulo Nunes é
surpreendentemente mais impactante,
desafiadora, intensa e colossal.”
Ítalo Moraes. Psicólogo.
“História impactante sobre até que ponto
a mente humana chega para satisfazer
seus desejos mais profundos e obscuros.”
Ricardo Ondir. Revisor.
“Um livro que envolve o leitor a cada
capítulo. Diria que é muito mais que uma
obra literária. Chamaria de obra de arte.”
Ariel Pulsz. Escritor.
“Falo de compaixão, pois isso me humaniza.”
Paulo Nunes. Escritor.
Para uma melhor compreensão da história, recomenda-se que, antes de ler Castrado, o leitor já tenha lido o primeiro livro, Meu irmão e eu, que está disponível em e-book em amazon.com.br, e em papel em loja.uiclap.com. A tetralogia Meu irmão é composta por quatro livros. A ordem correta da leitura é Meu irmão e eu, Castrado, Tesão e loucura, e Vaidade e vômito.
Livremente inspirado em uma história verídica.
CAPÍTULO UM
O dragão
__________________
O poeta, pintor e visionário William Blake é, sem sobra de dúvidas, um dos autores mais estranhos da literatura inglesa para os críticos. Sua pintura em aquarela do apocalipse bíblico, intitulada de O grande dragão vermelho e a mulher vestida de sol, mesmo séculos depois, desafia o imaginário popular e provoca o expectador a um mergulho em suas dualidades inconscientes. No esplendor de sua genialidade, Blake apresenta o dragão como o guardião do que considero nossos tesouros inconscientes, aqueles que são recalcados com o propósito de nos manter civilizados e pertencentes a uma cultura. O enfrentamento a esse dragão, com o intuito de se apossar desses tesouros, é o que há de mais rude na natureza humana. A luta é para que o homem se aproprie do que é seu por direito e seja livre em sua essência, inclusive para amar, da forma que desejar. É isso que vejo naquele dragão.
Conflito, dor, sofrimento, angústia e desespero é o que deve esperar quem almeja ver o ouro dos seus infernos reluzir diante dos olhos. O contrário também é verdadeiro. Quietude, prazer, alegria, alívio e esperança são características de quem decidiu ignorar a existência dessa sala escondida e escura que existe em nós, mantendo, assim, uma vida normal e aceitável socialmente. Isso, com certeza, não se aplica à minha história. Mesmo sem armas e não tendo consciência do que fazia, em um passado não muito distante, enfrentei o dragão que detinha a chave da arca dos meus tesouros. Pensei que esse monstro habitava somente a minha fantasia e imaginação, mas, com o passar do tempo, descobri que também era real e dormia todas as noites na minha cama. Para vencê-lo, meu propósito era simples: esperar, humilhar e me vingar. Depois de destruí-lo, iria apossar-me do que é meu e recuperar a felicidade que me foi roubada brutalmente. Isso para mim significava vencer. Para a psicanálise, significa deixar o meu inconsciente gozar.
A analogia com a arte de Blake parece propícia para este momento de vida em que me encontro ao escrever meu segundo livro, que é a continuação do que revelei no primeiro. Caso o leitor não esteja entre os trinta milhões de pessoas que já leram a primeira parte da história em todo o mundo, incentivo-o a começar esta séria literária, inicialmente com o que já foi publicado, pois será mais fácil de compreender o que exponho, ou de enojar-se. Chamo-me Gaius Barrys e, antes que o leitor se confunda porque mencionei William Blake e o seu Grande dragão vermelho e a mulher vestida de sol, permita-me confessar que depois que apreciei aquela arte apocalíptica no Museu do Brooklyn, em Nova Iorque, quase todas as noites tenho sonhado com aquele ser estranho de olhos esbugalhados. Os sonhos eram misteriosos, repetidos e, quase sempre, acontecia a mesma coisa. Neles, estava em pé, contemplando o monstro e a mulher aos seus pés. Mas, em vez da calda, via, no dragão, um grande pênis, que não parava de gozar sobre o corpo dela, manchando sua roupa dourada, transformando-a lentamente em uma cor escarlate a cada jato de sêmen. A mulher tentava se livrar dos esporros que jorravam abundantemente do pênis. Eles encharcavam seu corpo inteiro. Em um determinado momento, o dragão e a mulher olhavam para mim. Nisso, percebia que era uma criança, com três ou quatro anos, e estava sem roupa. Com os olhos da mulher fitos nos meus, surgia em mim a consciência de que ela era uma santa. A Virgem Maria, talvez? Instantaneamente, sentia uma enorme vontade de estar no lugar dela e ser banhado por aquele líquido viscoso e farto. Então, caminhava ao encontro deles desejoso daquilo. E, antes que os tocasse, despertava do sono e acordava sobressaltado. Assim eram os sonhos.
Na noite de um desses sonhos que descrevi, em minha cama, já acordado, ainda com os olhos trêmulos, tentando aquietar a respiração ofegante, toquei meu membro e percebi que tinha gozado. No mesmo instante, olhei para ele, dormindo serenamente ao meu lado. Passeei meus olhos por aquele corpo e rosto angélicos, contemplando aqueles cabelos meio castanhos e meio loiros, e sentindo o ódio e a fúria gritarem dentro de mim. Apertei meus dentes uns contra os outros com força, respirei fundo e voltei a dormir.
Na tarde daquele dia, sutilmente, senti que alguém estava em meu quarto. Tentei abrir os olhos para me certificar, mas o sono me possuía por completo. Virei-me para o outro lado, agarrei-me a dois travesseiros que me faziam companhia e me entreguei àquela sensação gostosa de voltar a dormir. O barulho do fechar das gavetas e do salto alto, que tocava o piso de mármore e madeira do meu quarto, irritava-me. Que inferno! Pensei. E ao decidir libertar meu corpo das cobertas e esbravejar contra quem estivesse atrapalhando meu sono, virei-me e abri meus olhos, fazendo questão de mostrar minha cara feia a quem estava lá. Era Alyce. Meus olhos a fitaram com fúria. Bufei demoradamente para externar meu incômodo ao ser acordado, enquanto ela disfarçava que ainda procurava algo nas gavetas do meu closet. Caminhando como criança que sabe que fez alguma traquinagem e foi descoberta, cheia de vergonha em seu rosto, Alyce se aproximava da minha cama e parou somente ao me ouvir comentar com a voz impaciente, enquanto eu esfregava meus olhos:
— Não me lembro de ter pedido para que me acordasse, Alyce. Algum compromisso que esqueci?
— Como já passa das 13h, imaginei que quisesse repassar seus compromissos para esta semana. Temos convites pendentes que você não confirmou... — falava, com a voz baixa, tentando sorrir para que minha irritação não aumentasse, quando a interrompi.
— Não há nada que não possa esperar até o início da noite, Alyce. Sabe que não gosto que me acordem. Por que me acordou? Que inferno! — reclamei, batendo as palmas das mãos contra as cobertas, que ainda aqueciam meu corpo.
— Desculpe. Desculpe. Sei que não gosta, mas temos assuntos para tratar, e pensei que...
— Não pensou nada. Você me acordou para conversar sobre as suas investidas fracassadas em George. Meu Deus, Alyce! É claro que ele é gay! Que homem heterossexual e solteiro rejeitaria uma mulher linda como você? Esquece esse cara e me deixe dormir, por favor, por favor... — e fazia cara de súplica, implorando para que saísse do quarto.
— Gaius, não é sobre o George — interrompeu-me ela, assumindo um semblante de preocupação e tristeza em seu rosto, enquanto derreava as sobrancelhas e pressionava os lábios.
— Algum problema na entrevista com a Oprah? — questionei com tom de preocupação, percebendo que ela tinha algo importante a dizer.
— Para a Oprah, estamos com tudo sob controle — e ficou calada, olhando-me, querendo falar, como se buscasse palavras.
— Alyce, o que aconteceu? Algum problema com ele? Está tudo bem no México? — perguntei, imaginando que algo ruim tivesse ocorrido.
— Não. Não é isso... — e novamente ficou calada.
— Fale de uma vez, por favor — ordenei, ansioso e impaciente.
— O pai de Aidan faleceu — contou ela, à queima-roupa.
O quê? O Senhor Daan morreu? Pensei. Nisso, rapidamente, livrei meu corpo das cobertas e levantei-me, pondo-me a olhar para ela com cara de espanto, ainda tentando assimilar a informação que ouvi.
— Como isso aconteceu? O que houve? — perguntei, caminhando em sua direção, abraçando-a.
— Um infarto no início da manhã. A empregada percebeu que ele demorava no banho e foi ao quarto. Estava caído no box, com o chuveiro ligado. Ela chamou a equipe do resort, que o levou ao hospital. Foi inútil. Era tarde demais — respondeu, lamentando.
— Que coisa horrível, Alyce. Onde está Aidan? — perguntei, afastando-me dela, procurando um roupão para cobrir meu corpo quase nu.
— Já está no avião desde o fim da manhã. Deve chegar ao Havaí por volta das 23h — e caminhou até meu closet, apanhando um roupão branco para mim.
— Havaí? O que o Senhor Daan fazia no Havaí? E com quem? — questionei, tomando o roupão que ela estendeu a mim.
— Estava com sua empregada e cuidadora.
— O que ele fazia no Havaí, Alyce? Não faz sentido — e vesti o roupão, cobrindo meus ombros e tórax.
— Gaius, é uma longa história, mas já adianto que tem uma garota no meio.
— Está explicado. Um homem de quase setenta anos em um resort numa ilha isolada só podia ter uma garota no meio — comentei e, logo, acendi um cigarro, caminhando para a varanda, enquanto Alyce descortinava as janelas, clareando meu quarto.
Durante os dois tragos que dei em seguida, tentando organizar as ideias, contemplei, da varanda do meu arranha-céu, o Central Park naquela tarde ensolarada, e, por um instante, tive uma lembrança agradável. Fui interrompido dos meus pensamentos por Alyce, que perguntou:
— O que você quer fazer?
— O que disse? — respondi, perguntando.
— O que pretende fazer, Gaius? — Perguntou novamente.
— Prepare o avião. Vamos ao Havaí. Preciso ver Aidan — e dei mais um trago demorado no cigarro, inspirando o vento que ia de encontro aos meus cabelos.
— Imaginei que faria isso. Então, adiantei as coisas. Seu avião particular está pronto e esperando você há duas horas. Separei sua roupa no segundo quarto. Não tenho tanto talento para ser seu stylist como Richard, mas acho que consigo me virar em uma emergência — comentou, fazendo questão de deixar claro que era uma excelente assistente pessoal.
— O que eu faria sem você, Alyce? — perguntei, elogiando sua eficiência.
Ela ficou calada e sorriu com os olhos para mim, agradecida pelo reconhecimento.
— Vou tomar banho. Ajuda-me a me vestir? — perguntei, depois de ter apagado o cigarro, entrando no quarto, caminhando para o banheiro, retirando o roupão e jogando-o sobre a cama.
— Ajudo, sim. Só estou com uma dúvida — respondeu.
Virei-me para ela e balancei a cabeça, esperando-a falar.
— Separei uma cueca para você vestir, e não uma calcinha. Devo mudar? — e olhou para minhas pernas.
Nisso, percebi que dormi com uma das calcinhas exclusivas que havia comprado na Victoria’s Secret a pedido de Aidan. Alyce me olhava com cara de luxúria, imaginando o que aquele minúsculo tecido havia testemunhado na noite anterior. Tentando não rir, continuou:
— E precisava ser tão minúscula?
Aproximei-me dela e sussurrei em seu ouvido:
— Ele pediu que eu comprasse a menor que encontrasse, e tinha que ser pink — e fiz cara de que a noite anterior havia sido maravilhosa.
Dei as costas para ela e caminhei ao banheiro, faceiramente, quando a ouvi dizer:
— Precisa me contar essa história, Gaius — elevando a voz para que eu a ouvisse.
— Só depois que me contar a história da garota do Senhor Daan. Alyce, você esqueceu meu drink — gritei de dentro do banheiro, depois de rirmos da situação.
Ela apareceu na porta, fez cara de luxúria e respondeu, sensualmente:
— Não esqueci. George estava em dúvida se iria querer Margarita ou Kir royal. Enquanto você toma banho, vou dizer a ele que quer tomar um Kir com o seu café da manhã — e saiu do banheiro, rindo, criando motivo para ver mais uma vez o bartender gostoso que ela mesma contratou para preparar meus drinks e flertar com ele também.
Pouco mais de um ano antes daquele dia, em que recebi a notícia da morte do Senhor Daan, voltei a viver em Nova Iorque com um objetivo claro e definido. Regressei, determinado a conseguir o que queria e, mesmo que em alguns momentos tenha desistido, nunca consegui me livrar por completo do que imaginei fazer, embora os tormentos mentais que sofri tenham sido avassaladores. Tudo precisava acontecer da forma como arquitetei, e a minha parte consistia em controlar minha fúria, escondê-la de todos e oferecer as doses de veneno no momento certo. Este foi meu maior desafio: administrar meu ódio e escondê-lo de todos. À época, para que as coisas ocorressem como era preciso, tive que revelar parte do meu segredo para Alyce, que, naquele momento, rejeitou veementemente me ajudar. Insistente, fiz com que considerasse minha proposta sob a motivação de que não conseguiria confiar em mais ninguém além dela, e, também, prometi ajudar sua mãe com o tratamento de Alzheimer. Mesmo assim, ela negou meu pedido. Uma semana depois da nossa primeira conversa, em uma manhã de sábado, convidei Alyce para almoçar em um restaurante na Stone Street. Depois de algumas cervejas, uma deliciosa salsicha alemã e algumas risadas, retirei do bolso um chaveiro e dispus, humildemente, próximo ao prato dela.
— O que é isso? — perguntou, segurando as chaves, curiosa.
— Seu apartamento, que fica a uma quadra do Central Park.
Vi seus olhos arregalarem e sua boca carnuda abrir, vagarosamente, enquanto seu rosto assumia o semblante de espanto.
— Do que está falando, Gaius?
— Comprei para você. É seu — e dei um gole demorado na cerveja alemã.
Alyce me olhava assustada e desconcertada, enquanto procurava palavras em sua mente para aceitar minha proposta. Eu, percebendo que ela iria falar, interrompi-a:
— Sua mãe terá todas as despesas médicas pagas pelo tempo que precisar em uma instituição apropriada para cuidar dela. Peça a seu irmão para interná-la e enviar as despesas para Alexander. Ofereço a você um salário cinco vezes maior do que está ganhando atualmente na House’s Barrys. O apartamento é seu, e pode se mudar para lá hoje mesmo, se quiser. Caso desista de me ajudar no meio do caminho, você perde o salário, o apartamento e a ajuda financeira para sua mãe. Vai assinar um contrato de confidencialidade, e eu prometo que não se envolverá diretamente em nada que seja ilegal. E, ainda, que não derramarei sangue de ninguém — disse, à queima-roupa, quase deixando-a sem saída.
Ela me observava falar com seus olhos sorridentes, não acreditando que, finalmente, depois de anos morando em Nova Iorque, teria seu próprio apartamento. Atônita, sem saber o que responder, começou a gaguejar, e foi interrompida, por mim, novamente:
— Alyce, o apartamento foi todo reformado, fica a uma quadra do Central Park, tem sessenta metros quadrados, um dormitório, uma suíte, uma vaga para carro e custou um milhão e quatrocentos mil dólares — e dei mais um gole na cerveja, contemplando sua cara de felicidade.
Ela fechou os olhos, respirou fundo e respondeu:
— Sem nada ilegal e sem derramamento de sangue. Certo? — perguntou ela, aceitando minha proposta.
Touché! Pensei, regozijando em meu interior, controlando-me para não gritar de alegria.
— Prometo a você — e pisquei o olho para ela, enquanto mostrava meu sorriso de felicidade por tê-la como assistente pessoal e cúmplice do meu plano.
Para comemorar, chamei o garçom e pedi mais duas cervejas alemãs. Percebendo que ela olhava para ele com desejo, comentei:
— Ele é bonito, não é? — e rapidamente analisei o estilo descolado das roupas que ele vestia.
— O nome dele é George. Ele trabalha como garçom aqui durante o dia e é bartender em outro restaurante à noite. Venho no Baviera Bierhaus só para olhá-lo — comentou, baixando a voz como se me contasse um segredo.
— Ele é bartender? Então, acho que você já tem uma primeira missão como minha assistente pessoal. Preciso de um stylist, um cozinheiro, um relações públicas e um bartender. Parece que não precisamos mais procurar alguém para fazer meus drinks, não é? — e dei um sorrisinho safado para ela.
— Está brincando comigo, Gaius? Posso contratá-lo? — questionou, ansiosa e eufórica.
— Avise-o que sou exigente com meus drinks. Pode contratá-lo, sim.
Meu ouvido ficou com um zumbido, depois do grito de felicidade que Alyce deu. Tentando acalmá-la, compartilhando de sua alegria e rindo com ela, ordenei:
— Garota, vá pegar o celular do bartender gostoso e vamos sair daqui, pois temos que ir conhecer seu novo apartamento — e bati repetidas vezes na mesa com a palma das mãos, repleto de alegria, rindo para ela.
Mais uma vez, ouvi um grito fino de Alyce em meus ouvidos.
— Pare de gritar. As pessoas estão olhando — ordenei, tentando controlar as gargalhadas que dávamos juntos.
Não pude controlar minhas lágrimas ao ver Alyce emocionada ao entrar em seu apartamento. Depois de me abraçar e agradecer o presente, ela percorreu todos os cômodos, comentando o que faria em cada um deles e como ordenaria os móveis. Sua alegria era contagiante. Por um instante, enquanto acendi um cigarro, olhei para ela e senti inveja de toda aquela alegria e entusiasmo. Naquele momento da minha vida, acabando de retornar a Nova Iorque pela segunda vez, dentro de mim, só havia dor e saudade. Percebi uma lágrima fina escorrer em meu rosto. Disfarcei e voltei a sorrir. Nos próximos anos, depois daquele dia, Alyce foi, para mim, muito mais que uma amiga e cúmplice. Foi um anjo em minha vida. Sem ela, jamais teria conseguido fazer o que fiz. Só lamento que a promessa que fiz a ela de não derramar sangue, não pude cumprir.
Quando saímos do apartamento dela, levei-a para o hotel, onde, à época, estava hospedado. Chegando à suíte do The Plaza, Alyce e eu fomos recepcionados por Rosa e Juanita. Mãe e filha estavam tendo aulas de inglês, com James, professor particular. Saudou-nos, também, Alexander, advogado da House’s Barrys, que montou uma equipe de profissionais especialistas em finanças e abriu uma empresa somente para cuidar do meu dinheiro desde os meus dezoito anos, depois que recebi a parte da herança da minha mãe. Arthur, meu sobrinho, dormia em minha cama. Vendo Alyce e eu juntos, Juanita logo correu ao nosso encontro e abraçou-nos, primeiro a mim e, depois, a ela, falando em espanhol conosco:
— Que bom que chegaram! — disse ela, beijando-nos o rosto.
— Olá, carinho! — e retribuí o beijo, envolvendo-a com meu abraço.
— Posso confessar um segredo a vocês? — perguntou ela, quase sussurrando.
— Claro que pode, meu amor — respondi no mesmo tom de voz.
— Não gosto muito de James. Ele é muito chato — e torceu os lábios, cruzando os braços, enquanto reclamava das aulas de seu professor.
— Meu amor, é importante que você aprenda inglês. Não pode ficar falando somente em espanhol aqui. Não é Alyce? Terá que ir para a escola em breve. Por favor, esforce-se. É importante para mim. Sei que ele pode parecer exigente, mas saiba que é para o seu bem. Por favor, dedique-se a aprender. Posso esperar que fará isso? — perguntei à Juanita, tentando conscientizá-la, chamando Alyce com os olhos para ela me ajudar.
— Juanita, já conversamos sobre isso várias vezes. Eu também tive dificuldade com o inglês, mas minha tia me ajudou. Sei que vai conseguir, pois é uma menina muito inteligente — disse Alyce a ela, incentivando-a.
Juanita abriu um leve sorriso e respondeu, olhando para mim:
— Você prometeu me levar a Disney. Isso ainda não aconteceu.
— Prometo a você que levarei, sim. Mas precisa aprender logo o inglês e ajudar sua mãe, pois sei que ela deve estar detestando essa ideia. Assim que aprenderem, prometo que iremos todos a Disney, até mesmo Alexander. Não é mesmo, doutor? — e beijei Juanita, apontando para a mesa onde Rosa e James estavam, deixando claro que ela deveria voltar para a aula.
Depois, caminhei para onde Alexander estava sentado, cercado de papéis em sua mesa.
— Espero conseguir tempo para cuidar dos seus negócios e ir à Expedition everest — comentou o advogado, tentando parecer engraçado para mim.
Ora! Ele gosta de aventura! Bom saber, pois teremos fortes emoções pela frente. Pensei, enquanto tentava rir da sua piada sem graça, virando meu pescoço e perguntando à Alyce: