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Suicídio Policial: Guia Para Uma Prevenção Eficaz
Suicídio Policial: Guia Para Uma Prevenção Eficaz
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Suicídio Policial: Guia Para Uma Prevenção Eficaz


Somente com esses três fatores, estaríamos falando de uma população particularmente vulnerável em que taxas de suicídio mais alta do que da população em geral poderiam ser esperadas, aos quais fatores temporários, como os sazonais (inverno ou verão), os eventos sociais (perda de um familiar), o consumo de álcool, … produzindo um maior risco de suicídio entre os agentes, dados os elevados níveis de estresse a que estão submetidos, com deslocamentos geográficos temporários, exposição quase contínua à violência, sensação de isolamento social (Mishara & Martin, 2012).

Fatores de Personalidade

A primeria coisa a esclarecer é o conceito de pessoa, cuja etimologia (origem do significado das palavras) se refere às máscaras que os gregos utilizavam em suas apresentações teatrais; ou seja, a pessoa (máscara) é a imagem com que nos apresentamos aos demais; sem ser tão estrito, o termo é usado para designar um indivíduo substancialmente diferente dos demais, que pertence a uma determinada espécie. Esta pessoa terá uma série de qualidades, além de suas características físicas, como peso, altura, cor do cabelo, pele ou olhos, entre outras; também apresentará uma forma de sentir e de se relacionar consigo mesmo e com os demais, mostrando um estilo de comportamento e maneiras próprias de agir. A este conjunto de estilos de pensar, sentir e agir que se denomina personalidade, em que se podem distinguir três facetas:

–Biológica, que corresponde tanto à informação genética adquirida pela combinação dos pais (genótipo); bem como os caracteres morfológicos, funcionais e bioquímicos que a pessoa apresenta (fenótipo); o primeiro corresponderia à nossa carga genética, enquanto o segundo se refere a como essa genética se expressa de determinada maneira.

–Individual, que abrange as necessidades, desejos e vontades, ou seja, é a motivação da pessoa, que será o que a levará a agir de uma determinada maneira para atingir seus objetivos, ela também tentará evitar o que lhe pareça pouco atraente ou desagradável

–Social, através das relações interpessoais, aprendemos não só a conviver com os demais, mas também a pensar e sentir de uma determinada maneira. A cultura, o idioma, os hábitos e costumes vão configurando desde os primeiros meses, as tendências de pensar, sentir e se comportar do indivíduo ao longo de sua vida

Com isso podemos ter uma ideia aproximada do que é a personalidade, como a tendência de pensar, sentir e agir de uma determinada maneira, que vai ser condicionada, por um conjunto de regras que regulam a convivência dentro da sociedade em que se vive, bem como pela expressão de uma genética transmitida por nossos pais, mas como se forma a personalidade?

Existem dois mecanismos principais que usamos para moldar a personalidade ao longo do tempo: a experiência direta permite que a pessoa, desde a mais tenra idade, experimente ações diferentes, e por tentativa e erro, aprenda o que é agradável ou desagradável. O primeiro, se torna uma fonte de desejo, gerando tendências para sua realização; enquanto o desagradável, tende-se a evitá-lo ou até fugir dele; e o aprendizado vicário, também conhecido como aprendizado observacional, em que a pessoa é capaz de aprender as consequências de certas ações vendo os resultados que estas geram em outras, por exemplo, um bebê é capaz de aprender a não tocar em coisas afiadas se ele vê como outra pessoa se machuca ao fazê-lo

Através destes dois mecanismos, aprenderemos a nos identificar como um indivíduo, diferente dos demais, com nossas próprias características, como nosso corpo, nossa maneira de pensar e de agir. Mas para chegar a este ponto, o bebê tem que passar por um período de experiência e aprendizado, como demonstrado pelo teste da mancha; antes do teste, é colocada uma mancha (de batom) em alguma parte da testa do bebê, e depois ele é colocado em frente ao espelho para observar sua reação. Se este tentar tocar a mancha, conclui-se que o bebê tem consciência de que está se vendo no espelho, ou seja, é seu reflexo; portanto, já teria consciência de si mesmo, como indivíduo diferente dos demais.

Igualmente, com o tempo, vai adquirindo a consciência moral, que é aquela que vai reger nosso comportamento ao longo da vida, e pela qual, aprendemos o que se estabelece como correto ou incorreto, dentro de determinada sociedade. Assim, estarão permitidos e até encorajados certos desejos, pensamentos e formas de agir; enquanto outros serão banidos, perseguidos e punidos

Personalidade que vai estar na base de como sentimos, pensamos e agimos, e é justamente neste último aspecto que tentamos explicar alguns comportamentos desalinhados e até psicopatologias; assim, uma das maiores dificuldades no tratamento de viciados é quando existem variáveis de personalidade envolvidas no abuso de substâncias; de modo que se alguma das características de nossa personalidade favorece o abuso de substâncias, estaremos mais predispostos a isso, embora não devamos pensar em qualquer tipo de determinismo de personalidade no abuso de substâncias, ele guiará nossos passos em direção ao que queremos e buscamos.

Existem muitas variáveis de personalidade que poderiam estar envolvidas, dependendo do modelo teórico que empregamos; mas talvez o narcisismo esteja se destacando nos últimos anos como uma característica determinante de nosso comportamento. O narcisismo é aquela percepção de si mesmo, intimamente relacionado à autoimagem e à autoestima, que motiva condutas autoindulgentes. No extremo está o narcisismo patológico, que leva a uma distorção da realidade, com pensamentos de grandiosidade, fantasias de ter capacidades ilimitadas, sentir-se superior aos outros, e até mesmo perfeito. Onde há uma baixa moralidade no que o satisfaz, não considerando que ele nunca está errado, motivado apenas por recompensas e sem qualquer remorso pelo que faz, mas que papel a personalidade desempenha no abuso de substâncias?

É exatamente isso que uma pesquisa do Departamento de Psicologia da Universidade de Mohaghegh Ardabili, junto com o Departamento de Psicologia da Universidade de Guilan, e o Departamento de Psicologia Clínica da Universidade Allameh Tabataba’i, Teerã, (Irã) (Mowlaie, Abolghasemi, & Aghababaei, 2016). Participaram do estudo duzentos estudantes universitários, dos quais 38,5% eram mulheres, com idades entre 18 e 35 anos. Todos eles receberam um questionário padronizado para avaliar os níveis de narcisismo patológico através do Inventário de Narcisismo Patológico (Pincus et al., 2009) ; da mesma forma, seu nível de dependência de álcool e outras drogas foi avaliado por meio da Escala de Reconhecimento de Dependência (Weed, Butcher, McKenna, & Ben-Porath, 1992); além disso, o autocontrole foi avaliado por meio da Escala de Autocontrole Cognitivo (Grasmick, Tittle, Bursik, & Arneklev, 1993); e por último foram administradas as escalas BIS/BAS (Carver & White, 1994) para avaliar a sensibilidade para executar ou inibir comportamentos em busca de recompensa.

Entre os principais efeitos, descobriu-se que o narcisismo patológico e o comportamento ativo estão significativamente relacionados ao abuso de substâncias. Embora o comportamento inibitório e o autocontrole estejam significativamente relacionados à prevenção do abuso do álcool ou de outras substâncias. Os resultados dos efeitos combinados mostram que existe uma relação positiva significativa entre o narcisismo patológico e o comportamento ativo em relação às drogas, mediada por baixos níveis de autocontrole, e também uma relação negativa significativa entre o comportamento inibitório e o autocontrole; embora os autores tenham tentado oferecer um modelo com as relações positivas e negativas significativas dessas quatro variáveis, isso não foi acompanhado por um modelo teórico que o corrobore.

Mesmo com as limitações acima, é importante destacar a complexidade do comportamento de abuso de substâncias, e como as variáveis de personalidade estão envolvidas nele, o que dificultará o tratamento de desintoxicação. Assim, o narcisismo patológico terá papel de destaque no abuso de substâncias, aspecto que terá que ser trabalhado se quiser modificar esses comportamentos, sabendo que tentar mudar a personalidade exige muito esforço e na maioria dos casos poucos resultados.

Como exemplificado na pesquisa anterior, o campo da psicologia tentou comprovar se existe algum traço de personalidade que “facilite” que uma pessoa possa ou não tentar tirar a própria vida; assim, com respeito à descoberta de características de personalidade que são determinantes em caso de suicídio, uma investigação foi realizada pelo Instituto Nacional de Psiquiatria Ramón de la Fuente em parceria com o Hospital Psiquiátrico Juan N. Navarro (México) (Camarena, Fresán, & Sarmiento, 2014).

Participaram do estudo 233 pessoas, sendo 49 pacientes com tentativas de suicídio com diagnóstico de transtorno depressivo ou distimia grave, excluindo do estudo aqueles que apresentavam qualquer outra patologia ao mesmo tempo; o restante constitui o grupo de controle com o qual comparar. Todos eles foram avaliados por meio de um questionário padronizado abrangente de 240 perguntas, denominado Inventário de Temperamento e Caráter (Garcia, Lester, Cloninger, & Robert Cloninger, 2017). De acordo com a teoria por trás deste questionário, no Temperamento existe um componente parcialmente hereditário, enquanto a Personalidade é formada pelas experiências sociais e pessoais do indivíduo. Este questionário avalia sete dimensões, quatro de Temperamento (Busca de Novidade, Prevenção de Danos, Dependência de Recompensa e Persistência); e três de Personalidade (Autodireção, Cooperação e Autotranscendência).

Os resultados analisados em conjunto relatam que pais e filhos com tentativas de suicídio compartilham características em comparação com o grupo de controle. Estas características definidoras são tanto de temperamento (alta Prevenção de danos e baixa Persistência), quanto de personalidade (baixa Autodireção e Cooperatividade). Algo que o estudo comenta é que os pais compartilham as mesmas características de personalidade que levam seus filhos a uma tentativa de suicídio. Como o estudo não contempla a análise das tentativas de suicídio de seus pais, caso tenha havido, não se pode concluir que esses fatores sejam determinantes, uma vez que, em alguns casos, como no dos pais, as mesmas características de personalidade não “levam” a tentativas de suicídio, enquanto que em outros sim, como é nos filhos.

Deve-se levar em consideração que entre os “sobreviventes” de suas tentativas de suicídio, vale ressaltar que não tentavam tirar sua vida, mas que era sua forma de chamar atenção ou queixar-se das circunstâncias que viviam. Por isso, em minha opinião, deve ser feita uma distinção entre aqueles que tentam e aqueles que conseguem, pois pode haver motivações totalmente diferentes por trás disso.

Então, os resultados deste estudo se refeririam apenas àqueles que o tentam. Apesar disso e dada a gravidade do assunto em estudo, qualquer contribuição é bem-vinda para melhor compreender os motivos, mas sobretudo para tratar de prevenir. Portanto, de acordo com esta pesquisa, existem fatores de temperamento e de personalidade com maior probabilidade de estarem presentes em pacientes com transtornos depressivos que também cometem tentativas de suicídio.

Assim, uma pessoa com temperamento com altos níveis de prevenção de danos, ou seja, não suporta o sofrimento; e baixa persistência nas tarefas, ou seja, não é constante para atingir seus objetivos, é mais provável que diante da depressão tenda a cometer atos suicidas, visto que seriam pessoas que estão sofrendo as consequências da depressão, aspecto que não o agrada, e também não são capazes de encontrar uma saída, porque exige um esforço diário, aspecto em que costuma falhar.

Da mesma forma, ter características de personalidade definidas por baixos níveis de autodireção, ou seja, têm pouca constância em assumir a responsabilidade pela própria vida; e baixa cooperatividade, ou seja, é uma pessoa competitiva e pouco envolvida nos aspectos sociais; quando ambas as características estão presentes diante da depressão, é mais provável que haja tentativas de suicídio.

Como seria o caso de alguém que não gosta de tomar decisões pessoais, como lidar com a depressão para sair dessa situação; e que também não conta com uma rede de apoio, para que seus colegas não o vejam como fraco, o que vai facilitar o ato suicida (Grassi et al., 2018).


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