banner banner banner
Todas As Cartas De Amor São Ridículas
Todas As Cartas De Amor São Ridículas
Оценить:
 Рейтинг: 0

Todas As Cartas De Amor São Ridículas

Todas As Cartas De Amor São Ridículas
Diego Maenza

Eloísa, uma idosa que em sua juventude foi brutalmente abusada sexualmente por três homens mascarados, lembra, no último dia de sua vida, a história gritante que a marcou. Ela a conta a uma das enfermeiras do hospital em que agoniza, enquanto permite que esquadrinhe um livreto em espiral que contém impressas todas as cartas que trocou em sua juventude com Abelardo, o único amor de sua vida.

Maenza reflete sobre os aspectos psicológicos, éticos e filosóficos do amor ocidental e tece um discurso doce e inteligente em que tempo, ritos de amor e presença erótica são abordados com sutileza. Inclui uma visão singular da escrita e uma Teoria dos Afetos muito particular e simbólica, usada em sua análise da metafísica das cores, dos sígnos, das sensações oriundas dos sentidos, do imaginário das bestas alquimistas, dos elementos clássicos e dos arcanos do Tarô. Numa época em que os relacionamentos se sucedem com a rapidez da modernidade e pululam os amores líquidos (segundo Bauman), ”Todas as cartas de amor são ridículas” reivindica esse rito laico das correspondência amorosas, cada vez mais em declínio, e pede desculpas por essa lentidão que Kundera reivindica para os romances. ”Todas as cartas de amor são ridículas” é construído como uma narração paródica dos romances, mas é, ao mesmo tempo, uma dissertação moderna sobre o amor e uma história de afetos com um final de tragédia que traz temas tabus como abuso, coisificação da mulher e violência contemporânea.

Todas as cartas de amor são ridículas

Diego Maenza

Traduzido por Daniela Ortega

www.traduzionelibri.it

www.diegomaenza.com

© Diego Maenza, 2020

© Tektime, 2020

© Daniela Ortega, tradução, 2020

Título original em espanhol: Todas las cartas de amor son ridículas

www.traduzionelibri.it

www.diegomaenza.com

Todas as cartas de amor são ridículas

Diego Maenza

Traduzido por Daniela Ortega

ÍNDICE

PRÓLOGO (#ulink_add7a0ee-1137-50cf-b23f-859553b536a9)

CAPÍTULO UM (#ulink_6fb7d51a-a4ff-54e1-b03b-6d88dcf13cac)

CAPÍTULO DOIS (#ulink_8ca8e1e2-c3af-5ab9-bd52-80eed595c547)

CAPÍTULO TRÊS (#ulink_26f2ff15-5fdf-5122-ac8b-2a3b439f9398)

CAPÍTULO QUATRO (#ulink_92691ec2-c3c9-5611-884b-e4945f3352c5)

CAPÍTULO CINCO (#ulink_c30d6592-7f22-52fc-8e1a-23ce2906a44f)

CAPÍTULO SEIS (#ulink_3bbcd14b-984b-5356-8f4c-9c641a3a8ae2)

CAPÍTULO SETE (#ulink_741d4dbb-d14b-5731-83a5-2075edeb65d3)

CAPÍTULO OITO (#ulink_aa8f295f-9088-5c6c-872a-f10e40284528)

CAPÍTULO NOVE (#ulink_1aa02f43-78f6-5585-9639-3c7435d6ac17)

CAPÍTULO DEZ (#ulink_50ae31e0-a894-53aa-ba23-52e45409e9c4)

CAPÍTULO ONZE (#ulink_b3e515e7-a408-5052-ae84-b63791c39c79)

CAPÍTULO DOZE (#ulink_f4c9d434-178a-521e-8c68-675115a1c728)

CAPÍTULO TREZE (#ulink_53bedef1-6ca6-5c81-ab12-57b573eac788)

CAPÍTULO CATORZE (#ulink_c1894b4b-ccf9-5e17-9b2b-5f159148fa13)

CAPÍTULO QUINZE (#ulink_419da7b2-0c26-50e9-bd2b-0d99e8447cef)

CAPÍTULO DEZESSEIS (#ulink_0d34d9cd-0ff2-51ee-98bc-08116d2b443c)

CAPÍTULO DEZESSETE (#ulink_0159dd67-437e-569f-ad8d-45ebcfbd16fc)

CAPÍTULO DEZOITO (#ulink_a6ed4e90-a439-53b3-9036-0cede015150a)

CAPÍTULO DEZENOVE (#ulink_75cb0e40-da92-5a48-a92e-d9431f7e43d8)

CAPÍTULO VINTE (#ulink_19a6456f-3e86-5d3f-8e00-9fcad5730100)

CAPÍTULO VINTE E UM (#ulink_c0eeaa93-053e-5b14-9fff-b95a723ae4d9)

CARTA VINTE E DOIS (#ulink_f1da1954-24e7-5a62-a324-fb8039b845a9)

EPÍLOGO (#ulink_1219bd8c-90b9-59ac-a985-bf4e195b6165)

PRÓLOGO

Abelardo olha para o céu. Sorri, satisfeito, como não se fazia há dias, como não fazia há semanas. As nuvens se amontoam em um cinza enevoado, premonitórias. Suas pernas, nervosas e excitadas, o levam pela calçada, mas sua mente está imaginando o encontro iminente com Eloísa, o amor de sua vida. Sob sua axila direita, ele carrega o manuscrito, apertando-o como se o protegesse antecipadamente da tempestade que se aproxima. Sinta a brisa roçar seu rosto, bagunçar seus cabelos volumosos, acariciar suas maçãs do rosto. Abelardo olha para o chão. Observa o lixo que vibra com o vento. Seus pés descem para a calçada, despreocupados, como seu instinto sonhador, como seus olhos inquietos que se desviam novamente pelas formas da paisagem nublada. Por isso, ele não percebe o carro que atravessa a avenida rapidamente, por isso, não avança para ouvir até o último e inútil momento a buzina desesperada do também imprudente motorista. O metal do veículo atinge o corpo de Abelardo. Sua pele range, sua carne se dilata, seus ossos se quebram, sua anatomia golpeada é ejetada vários metros na mesma direção da brisa. Certos respingos de seu sangue se confundem, se misturam, s integram ao capô do carro. A cabeça do garoto bate no asfalto e causa o trauma. A chuva começa a cair, muito delicadamente. O pedestre mais despreocupado, em que a natureza inquisitiva do ser humano estará mais focada em verificar os detalhes circunstanciais do que em direcionar sua atenção para o centro do incidente (talvez com a intenção de tirar proveito material da situação trágica), será a única pessoa que notará as quatro palavras que encabeçam o manuscrito que foi parar perto de um esgoto, aquelas quatro palavras que já começam a se dissolver por toda a página devido à insipiente garoa e que constituem o título do trabalho que o jovem Abelardo, gravemente ferido, deseja publicar: Teoria dos afetos.

CAPÍTULO UM

Falar dela (eu sempre disse isso e mantenho) é falar da criatura menos comum. O que eu poderia dizer sobre ela que não soe como algo usual ou uma frase fácil, um tópico banal? O problema não está na falta de histórias sobre as quais falar discorrer, a complicação acaba sendo o oposto, porque, de fato, existem muitas maravilhas que poderiam ser comentadas sobre sua vida. A questão é que não me decido sobre com qual deles dar início a esta história. E devo considerar com calma. Detalhar sua vida será um processo interessante, mas poderia ser um deslize indesculpável da minha parte errar por um momento. Talvez outro interlocutor mais loquaz seja a pessoa apropriada para capturar sua essência com precisão e objetividade; no entanto, minha pretensão é muito mais ambiciosa: nesse processo, preciso revelar o que ela significou para mim. Onde encontrar a fonte mais cristalina da verdade, senão nela? Para seus lábios, a mentira é proibida, e isso a capacita a fazer comigo o que ela quer. Sua luta para ser mulher forjou o animal mais utópico, que carrega uma idolatria desesperada pela vida. Ela gosta de amar... Ela gosta de me amar. Entrar em detalhes de seu ser seria profaná-la. Por acaso os crentes tentaram descrever seus deuses? Mas devo correr o risco, mesmo ao custo de não escapar ileso da tentativa. Seu caráter cru e imponente, os seios altivos que desenham curvas no ar, a voz de melodia pegajosa e doce, o olhar travesso me beliscando em carícias indeléveis, sua inteligência prática e o espírito generoso, a garra invisível de seus quadris batendo contra o vento em sua maneira peculiar de andar, seu senso de humor, o sorriso hábil projetando seu perfil picaresco. Ela é isso e muito mais. O protótipo da mulher perfeita. Um ser fictício transmutado em realidade. Seu nome é Eloísa.

Meu nome era Eloísa e já não sou jovem. Não depois de tudo que me aconteceu. Mesmo com o passar dos anos e apesar da juventude de minhas células, eu me vi devorada por uma velhice espiritual que preservei até hoje e que nunca saiu de minhas veias. O corpo é algumas vezes o reflexo da alma e outras vezes sua tortura. Porque nascemos em um tempo e em um espaço em que a beleza é sinônimo de sofrimento, mesmo que insistam em dizer o contrário.

Eu era magra e bonita, graciosa e frágil como a gazela que mostra como é esbelta sem perceber que hienas e lobos famintos espreitam das sombras.

Hoje, ao dizer isso, jovem amiga, posso até saber o que cada um deles pensava no momento do incidente. O primeiro, o gordo, havia notado minhas pernas finas e morenas, que se mostravam apetitosas para suas presas vorazes. O segundo, o mais forte, notou meus seios nascentes, pequenos botões que se projetavam da minha blusa e que incitaram o homem a mordê-los durante todo o trabalho. E para o terceiro, para o jovem, foi a luminosidade vistosa de meus glúteos, torneados e firmes pelos exercícios aeróbicos e pela dança contemporânea, que despertou o apetite. Eram todos uns porcos.

CARTA UM