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Herança Perdida
Herança Perdida
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Herança Perdida


Ambos olharam para baixo e não abriram a boca.

Preparamos todo o equipamento necessário e, após pensar pela última vez, iniciei a subida. O primeiro trecho era fácil, a altura não era excessiva, podia ficar uns seis metros acima do nível da lagoa, alto o suficiente para que nada me pudesse atacar da água.

Eu cravava pregos na rocha enquanto amarrava a corda neles e passava ao redor da cintura para evitar qualquer queda. Avancei assim ao longo da parede em direção à outra margem, dando um passo atrás do outro com muito cuidado, aproveitando os buracos naturais que a humidade formou ao longo dos anos.

Quando cheguei à mediação, começava a sentir-me exausto. Olhei para baixo uma vez e pensei ter visto a água a agitar-se suavemente no centro da lagoa.

Depois de quase meia hora eu estava exausto, embora a proximidade do altar me desse forças para continuar. O maior incómodo veio um momento depois, porque a corda estourou quando faltavam apenas alguns metros para chegar à outra margem e já conseguia distinguir aquela relíquia com total clareza.

— O que foi, amigo? — Kalisteas gritou enquanto me via levantar.

— A corda acabou! — Respondi, voltando-me para a sua posição.

— Devias ter pagado ao barqueiro, — ele rosnou com raiva. — Voltas a tentar para o ano.

Fingi não ouvir e soltei o resto da corda que ainda me restava até à beira da água. Deslizei suavemente sobre ela até que introduzi silenciosamente o meu corpo e o líquido frio atingiu o meu pescoço. Não havia como voltar atrás, comecei a nadar em direção à costa com todas as minhas forças.

A distância era curta, mas cheguei exausto pelo esforço de escalar. Quando pisei na margem, virei-me quando ouvi um rangido atrás de mim e, sem pensar duas vezes, tirei o revólver e esvaziei o carregador sem ver do que se tratava. Só pude observar algumas ondulações na água que se afastaram novamente na direção oposta.

Recuperei a calma e finalmente consegui chegar ao pequeno altar que estava localizado sobre uma rocha composta por uma lápide no meio de um cubículo e em cuja pedra havia sido entalhada uma procissão de carpideiras.

Debaixo delas havia um túmulo onde havia algumas letras que mal podiam ser lidas, desgastadas pela humidade e o passar do tempo. Passei a minha mão sobre elas e tive uma sensação que hoje ainda não consigo descrever em palavras.

Fiquei paralisado a olhar para elas por alguns momentos, até que um som alto começou a zumbir nos meus ouvidos, sem saber de onde vinha. Olhei para a lagoa e não vi nada fora do comum.

— Tens que voltar rápido! — Kalisteas começou a gritar com toda a força.

— Agora não, amigo! Finalmente encontrei! — Eu respondi.

— Esquece isso se não queres que seja a última coisa que fazes na vida! Está a formar-se uma tempestade sobre a lagoa e em alguns minutos a caverna será completamente inundada com água!

Estas palavras apunhalaram-me no coração.

— Tudo bem! — Respondi com resignação. — Só há uma opção para voltar com vocês!

— Estou a ouvir!

— Atira pedra para a água para atrair a atenção do nosso amigo! Assim que o vires aproximar-se, faz-me sinal com a tocha!

— Entendido!

Kalisteas balançou a tocha de um lado para o outro, momentos depois. Naquele momento entrei na água e comecei a nadar até à corda, agarrei-a com as duas mãos e comecei a pulsar o mais rápido que pude. Quando cheguei ao primeiro prego, enrolei a corda em volta da cintura novamente e fiz todo o caminho até a outra margem como um cavalo a cavalgar ao vento.

A tempestade não parava de trovejar lá fora com mais força, quando cheguei à outra margem as minhas mãos estavam ensanguentadas pelo grande esforço que havia feito.

O grego conduziu-nos à pressa pelos túneis até chegarmos à cavidade de entrada, onde a água havia subido quase até à altura do teto. Nadámos rapidamente para o lago enquanto as nossas cabeças mal saíam da água.

Já podíamos ver a saída quando a caverna ficou completamente alagada, respirámos fundo e tivemos que mergulhar no trecho final até que finalmente imergimos no lago à mesma altura onde o barqueiro nos esperava.

A viagem de volta teve um gosto agridoce. Havíamos feito a maior descoberta da história, mas não tínhamos nenhuma evidência que o confirmasse. E o pior de tudo, teríamos que esperar um ano inteiro para tentar novamente.

Capítulo I

Londres, 1922

Estava a caminho do Museu Britânico num táxi que apanhara na esquina da White Hurtline e já estava atrasado para a exposição que acontecia naquela noite na sua sala principal. Todos os editores dos jornais mais importantes da cidade foram fazer a cobertura das notícias do ano. Pela primeira vez, a descoberta arqueológica mais aclamada dos últimos anos podia ser vista em Londres. Nenhum jornalista que se preze poderia perder o evento.

Quando chegámos a Piccadilly Circus, deparamo-nos com um monumental engarrafamento que bloqueou o nosso caminho e, por dez minutos, mal avançámos vinte metros.

Se me atrasasse, poderia considerar-me despedido.

— Quanto lhe devo? — Perguntei ao motorista.

— Uma libra e dez, — respondeu ele, virando-se para mim.

Paguei a conta e saí do veículo.

Atravessei a Trafalgar Square debaixo de chuva fraca e subi apressadamente várias ruas adjacentes até chegar a Great Russell.

A expectativa era ainda maior do que ele havia imaginado. Cem fotógrafos, polícias e uma multidão de curiosos lotaram o portão de entrada do Museu Britânico. Apesar das suas enormes dimensões, parecia pequeno demais para a ocasião.

Os Rolls-Royces e os Duesenbergs não paravam de chegar à sua porta. Ele não se lembrava de haver tanto barulho desde que Valentino apareceu no Albert Hall alguns anos antes.

Duas grandes fontes de luz faziam brilhar as imponentes colunas dóricas da sua fachada, e a deusa Atenas parecia ganhar vida no frontão.

O prédio brilhou naquela noite como se fosse a mais bela joia do Neoclássico.

Fui ao controle de acesso, apresentei o meu crachá da imprensa e, após uma busca minuciosa, deixaram-me passar. Durante o dia, eles tentaram infiltrar-se com alguma autorização falsa. Subi as escadas e parei no local designado para o meu jornal.

— Ei, Paul! Estás todo encharcado! — Exclamou Tom, o correspondente do Northen Star.

— Era impossível chegar cá de táxi e esqueci-me do guarda-chuva em casa, — respondi com resignação. — Chegou algum figurão?

— Só o presidente da câmara. Mas isso já não é novidade — respondeu ele sorrindo.

Um grande murmúrio foi ouvido ao fundo e as pessoas começaram a se aglomerar na entrada principal.

— Acho que vem aí o nosso homem, — anunciou Tom enquanto recarregava a câmara fotográfica.

Não tivemos que esperar muito, alguns momentos depois o Aston Martin descapotável que carregava o protagonista do dia parou próximo à escada.

Uma chuva de flashes imortalizou o momento enquanto as pessoas gritavam o seu nome e o homem mais procurado do planeta saía do carro. Howard Carter, acompanhado da sua bela e elegante parceira, atravessou o tapete azul-marinho que havia sido instalado para a ocasião, acenando da esquerda para a direita como se fossem duas estrelas do cinema mudo.

— Sr. Carter! Sr. Carter! — Todos os correspondentes gritaram em uníssono.

— Algumas palavras para o Daily Telegraph! — exclamei quando ele se aproximou da minha posição.

Howard Carter parou à minha frente e eu baixei a câmara e tirei o caderno do meu casaco.