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Herança Perdida
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Herança Perdida


— Espero que sim, — respondi resignado.

— Se não terminar, temos prateleiras na receção onde os investigadores guardam as informações para o dia seguinte.

— Muito obrigado. Foi muito gentil.

Liguei o pequeno candeeiro verde que cada mesa tem e abri a primeira pasta, como faria nos dias seguintes.

Depois de alguns dias de pesquisa, comecei a arrepender-me da minha proposta, aquele assunto não ia ser nada fácil. As informações eram infinitas, levaria anos para estudá-las em detalhes. Encontrei desde exploradores que descobriram os lugares mais remotos da África e da Ásia, até arqueólogos que desenterraram o legado histórico do Oriente.

A meio da manhã, enquanto folheava algumas páginas, vi como um tipo não parava de olhar para mim algumas mesas à frente. Não sabia se o conhecia de algum lugar ou se ele estava à minha procura por algum motivo. Procurei lembrar-me e não devia dinheiro a ninguém. Um momento depois, olhei novamente e ele já não estava mais lá.

Depois do almoço, vasculhei as estantes da Biblioteca. Senti-me verdadeiramente privilegiado enquanto corria os meus dedos por aqueles volumes com tantos séculos de história: o diário pessoal de Stanley na sua odisseia pela África para encontrar as nascentes do Nilo e o seu subsequente encontro com Livingstone. As dificuldades pelas quais os exploradores árticos liderados por Shackelton passaram quando o seu navio ficou preso no gelo por meses e eles quase perderam a vida; a corrida para conquistar o Polo Sul entre Amundsen e Scott, na qual ele tragicamente acabou a perder a sua vida e as várias descobertas arqueológicas dos nossos mais aclamados exploradores.

Esta investigação não me levava a lado nenhum e eu precisava mudar isso.

— Com licença, menina, você disse-me que além da documentação escrita também é possível consultar os mapas.

— Não temos apenas mapas, também temos jornais e fotografias.

O meu rosto empalideceu como no primeiro dia; esta rapariga era uma fonte inesgotável de boas notícias.

Desta vez, tive que descer para o porão. Lá, estudei diversos mapas e jornais do século XIX. Embora as suas leituras fossem interessantes, a maior parte das informações já era conhecida do público em geral. O meu trabalho era descobrir algo novo e em quatro dias eu havia encontrado apenas algumas histórias que valessem a pena descrever.

Estava absorto em jornais que ainda cheiravam fortemente a tinta quando taparam os meus olhos e a tinta deu lugar a um perfume agradável.

— Adriana! — Exclamei não convencido.

— Agora és bruxo ou quê? — Ela perguntou, sorrindo.

Adriana era uma siciliana de olhos verdes intensos, sorriso fácil e a melhor dançarina que já conheci. Emigrara com os pais quando era criança.

— O que te traz cá? — Ela perguntou, sentando-se à minha frente.

— Sabes como é. No jornal, um dia estás no Parlamento e no outro à procura de informações numa biblioteca.

— Que inveja. Passo o dia todo no cabeleireiro.

Balancei a cabeça com um sorriso.

— Vais ao salão este sábado?

— Claro. Estou muito contente com a minha professora.

— Conheço-a?

— Agora que penso nisso, ela parece-se muito contigo.

Ela riu e da mesa ao lado começaram a olhar para nós.

— Vou deixar-te trabalhar. Esta noite vou ver o último filme da Gloria Swanson, alinhas?

— Impossível. Estou cheio de trabalho. Vemo-nos no sábado.

Ela deu-me um beijo na bochecha e foi embora a sorrir.

Depois de um tempo, descobri entre as prateleiras o tipo que me observava três dias antes. Sem pensar duas vezes, levantei-me e fui pedir-lhe uma explicação, mas quando cheguei não havia ninguém lá. Passei por alguns corredores e não o encontrei, parecia que a terra o havia engolido; isto começava a cheirar mal.

Rumores chegaram até mim na sexta-feira de que o meu chefe não estava satisfeito com o meu trabalho. Repeti ad nauseam que ele precisava de mais ajudantes de pesquisa, mas ele não levou o meu conselho a sério.

Todo o trabalho recaiu sobre mim. O mais frustrante é que, se a publicação fosse um sucesso, todo o crédito iria para o jornal e o seu editor. Para mim, haveria apenas uma pequena resenha no final de cada artigo com o nome impresso, mas se fosse um fracasso o único culpado seria eu.

Após uma semana de investigação, o Sr. Dillan mandou chamar-me. Quando cheguei à sua porta, notei que as vidraças do seu escritório haviam sido alteradas e o seu nome podia ser lido numa enorme placa.

— O que me trazes hoje? — Ele perguntou cético. Eu sabia pelos meus colegas que não havia encontrado nada de novo. — Encontraste algo que possa ser publicado?

Tirei a gabardina e o chapéu e coloquei no cabide ao lado do porta-guarda-chuvas. De seguida, sentei-me numa cadeira de carvalho gasta.

— Tenho algumas histórias de exploradores africanos que descobriram pequenos rios na costa oeste.

O escocês abanou a cabeça repetidamente.

Foi até ao rádio e desligou um discurso enfadonho do primeiro-ministro.

— Adicionando um pouco de aventura e embelezando um pouco o artigo, poderíamos publicá-lo.

— E só me trazes isso depois de uma semana? — Ele respondeu, olhando para mim. — Não foste ao pub com aquela morena?

Abanei a cabeça.

— Passo o dia todo a trabalhar no museu, — respondi. — A italiana é uma boa amiga que me ensina a dançar charleston.

— Aquela dança americana descarada?

— É divertido, — eu disse, sorrindo. — Deveria experimentar.

O Sr. Dillan olhou para mim com cara de poucos amigos e eu olhei para baixo.

— Recebi permissão da Sociedade Geográfica para investigarmos nas suas instalações, — anunciou, entregando-me o documento. — A partir de amanhã vais trabalhar lá.

— Ótimas notícias, senhor.

— Espero que tragas notícias melhores da próxima vez. Agora sai daqui. Estou cheio de trabalho.

Dei a volta à almofada algumas vezes, levantei-me e fiz um café forte. Naquela manhã, senti-me revigorado. Foi o meu primeiro dia na biblioteca da Real Sociedade Geográfica Britânica, a mais alta autoridade nestes assuntos. Lá era apenas permitido investigar a pessoas muito influentes no campo das universidades de Oxford e Cambridge. Felizmente, o Sr. Dillan era sobrinho de um dos patrocinadores mais influentes da instituição e obtivemos uma licença para investigar por duas semanas.

A biblioteca da Sociedade era menor que a do Museu Britânico, mas continha verdadeiros tesouros. Nos primeiros dias a investigação continuou na mesma linha da semana anterior. Todos eram nomes familiares de exploradores famosos que escreveram páginas gloriosas da história do Império Britânico.

A minha surpresa veio quando menos esperava: revia expedições ao Médio Oriente quando descobri um nome que se repetia tanto nas descobertas da Mesopotâmia quanto do Egito: o seu sobrenome era Henson.