A saída da gruta
Com tudo cumprido, restava-me agora sair da gruta e proceder à minha verdadeira viagem. O meu sonho estava realizado e agora faltava colocá-lo em prática. Começo a caminhar e em pouco tempo deixo para trás a câmara secreta. Creio que nenhum outro ser humano terá o prazer de entrar nela. A gruta do desespero nunca mais será a mesma depois que eu sair dela vitorioso, confiante e feliz. Volto a penetrar no terceiro cenário: as imagens dos santos permanecem intactas e parecem estar felizes com a minha vitória. O cálice está levemente caído e seco. O vinho estava delicioso. Caminho calmamente em volta do terceiro cenário e sinto a atmosfera do lugar. Realmente é sagrada, assim como a gruta e a montanha. Começo a gritar de felicidade e o eco produzido se estende por toda a gruta. O mundo não será mais o mesmo depois do vidente. Paro, repenso e contemplo a mim mesmo em todos os sentidos. Com um último beijo de despedida deixo o terceiro cenário e volto para a mesma porta da esquerda que escolhi. O caminho do vidente não será fácil, pois terá o desafio de controlar totalmente as forças opostas do seu coração e ensiná-lo aos outros. O caminho da esquerda, que foi a minha opção, representa o conhecimento e o contínuo aprendizado, as forças ocultas, o arrependimento ou a própria morte.
A caminhada torna-se exaustiva, pois a gruta é muito extensa, escura e úmida. O desafio do vidente pode ser maior do que eu penso: desafio de conciliar corações, vidas e sentimentos. Isso não é tudo: ainda tenho de cuidar do meu próprio caminho. A galeria torna-se estreita e com ela também meus pensamentos. Vem à tona a saudade de casa, da Matemática e da própria vidinha. Enfim, saudades de mim mesmo. Apresso os passos e logo estou no segundo cenário. Os espelhos quebrados representam agora as partes da minha mente que foram preservadas e ampliadas: os bons sentimentos, as virtudes, os dons e a própria capacidade de reconhecer quando se erra. O cenário de espelhos é o reflexo da minha própria alma. Esse autoconhecimento, eu vou levar para a vida inteira. Ainda estão guardadas na memória a figura da criança, a do jovem de quinze anos e a do idoso. São três das minhas muitas faces que vou preservar, pois elas são minha própria história. Despeço-me do segundo cenário e com ele deixo minhas lembranças.
Estou na galeria que conduz ao primeiro cenário. A minha expectativa de futuro e minha esperança estão renovadas. Sou o vidente, um ser evoluído e especial, destinado a fazer muitos corações sonharem. O período pós- gruta servirá de treinamento e aperfeiçoamento de habilidades preexistentes. Ando um pouco mais e já consigo vislumbrar o labirinto. Esse desafio quase me destruiu. A minha salvação foi o bruxo, um morcego que me auxiliou a encontrar a saída. Agora eu não preciso mais dele, pois com os meus poderes de vidente posso facilmente passar por ele.
Eu tenho o dom da orientação em cinco planos. Quantas vezes não nos sentimos como se estivéssemos perdidos em um labirinto: quando perdemos o emprego; quando decepcionamos o grande amor de nossas vidas; quando desafiamos a autoridade de nossos superiores; quando perdemos a esperança e a capacidade de sonhar; quando paramos de ser aprendizes da vida; quando perdemos a capacidade de dirigir o nosso próprio destino.
Lembre-se: o universo predispõe a pessoa, mas é ela que tem de correr atrás e mostrar que é digno. Foi o que eu fiz. Subi a montanha, realizei três desafios, entrei na gruta, venci suas armadilhas e cheguei ao meu destino. Ultrapassei o labirinto, e isso não me faz tão feliz, pois já venci o seu desafio. Eu pretendo buscar outros horizontes. Já caminhei uns 3 mil metros entre a câmara secreta, o terceiro e o segundo cenários e com isso sinto-me um pouco cansado. Sinto o suor escorrendo, a pressão do ar e a baixa umidade. Aproximo-me do ninja, o meu grande adversário. Ele me parece ainda desacordado. Sinto tê-lo tratado daquela forma, mas estavam em jogo o meu sonho, a minha esperança e o meu destino. O homem tem que tomar decisões importantes em situações importantes. O medo, a vergonha, as regras morais só atrapalham em vez de ajudar. Acaricio o seu rosto e tento restabelecer a vida em plenitude em seu corpo. Eu ajo assim, pois já não somos adversários, mas sim companheiros de episódio. Ele se levanta e com um comprimento ninja me felicita. Tudo ficou para trás: a luta, as nossas “forças opostas”, o idioma diferente, os objetivos distintos. Vivemos uma situação diferente da anterior. Podemos conversar, nos entender e quem sabe ser amigos. Cumpro assim o seguinte ditado: Faça do seu inimigo um ardoroso e fiel amigo. Por fim, ele me abraça, despede-se e me deseja boa sorte. Eu retribuo. Ele continuará fazendo parte do mistério da gruta, e eu, do mistério da vida e do mundo. Somos “forças opostas” que se encontraram. É esse o meu objetivo neste livro: reunir as “forças opostas”.
Continuo caminhando na galeria que dá acesso ao primeiro cenário. Eu me sinto confiante e totalmente tranquilo, diversamente de quando entrei na gruta. O medo, o escuro e o imprevisto me atemorizavam. As três portas que significavam felicidade, medo e fracasso me ajudaram a evoluir e entender o sentido das coisas. O fracasso representa tudo aquilo de que fugimos sem saber por quê. O fracasso deve sempre ser um momento de aprendizado. É nesse momento que o ser humano descobre que não é perfeito, que o caminho ainda não está traçado e é o momento de reconstrução. É isso que devemos fazer sempre: renascer. Vejam o exemplo das árvores: elas perdem as folhas, mas não a vida. Sejamos como elas: metamorfoses ambulantes. A vida exige isso. O medo é presente sempre que nos sentimos ameaçados ou subjugados. Ele é ponto de partida para novos fracassos. Supere seus medos e descubra que ele só existe em nossa imaginação.
Eu já percorri uma boa parte da galeria da gruta e, nesse exato momento, ultrapasso a porta da felicidade. Todos podem ultrapassar essa porta e se convencer de que a felicidade existe e é alcançada se estivermos completamente em sintonia com o universo. Ela é relativamente simples. O operário, o pedreiro, os serventes são felizes ao realizarem o seu mister. O agricultor, o canavieiro, os boiadeiros são felizes ao recolherem o produto dos seus trabalhos. O professor, em ensinar e aprender. O escritor, em escrever e ler. O padre, em proclamar a mensagem divina, e os menores carentes, os órfãos, os mendigos, ao receber uma palavra de carinho e afeto. A felicidade está dentro de nós e espera continuamente para ser descoberta. Para sermos realmente felizes, devemos esquecer o ódio, as intrigas, os fracassos, o medo e a vergonha.
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