Noutro momento me vejo na luta que foi o encontro das forças opostas e o surgimento das dúvidas com relação à noite escura da alma. A batalha final do livro anterior me mostrou o quanto o bem é poderoso e pode transformar vidas. A única condição para que isso aconteça é que devemos nos libertar de todo e qualquer sentimento ruim como o ódio, a inveja, a mesquinhez, a intriga, o egoísmo, o auto-ego entre outros. Depois de ver todas essas situações, o turbilhão de imagens na minha mente começa gradativamente a desaparecer. Instantes depois retomo a consciência e já me sinto bem. Decido então retomar imediatamente a caminhada, pois o topo ainda está longe.
As vozes da montanha param e com isso começo a subir a montanha mais tranquilo. O medo, a vergonha e a inquietação foram deixados para trás. Penso nas imagens que fui submetido e isto me deixa com a vontade da descoberta. O que me esperava? Sinceramente não sabia. Seja o que fosse eu já me sentia preparado para enfrentar e superar desafios. Afinal, eu era o vidente, um ser superdotado de dons que foi o único homem a enfrentar a gruta do desespero e vencer.
Com o objetivo de buscar respostas para os meus anseios mais profundos, avanço ainda mais e logo consigo concluir um terço do trajeto total. Nesse exato momento, eu novamente paro para descansar. Aproveito para reidratar o meu corpo e mente. No segundo posterior, vêm à mente os esforços da subida anterior e como eu me sentia sozinho e inexperiente naquele fim de mundo. Eu era apenas um sonhador que buscava o último fio de esperança para realizar os meus sonhos através duma gruta milagrosa e que conseguiu o grande feito de sobreviver a uma subida íngreme. Depois da subida, relembro os momentos que passei lá, incluindo a guardiã, o fantasma, o jovem, o menino Renato, os desafios e a entrada na gruta mais perigosa do mundo. Realizei parcialmente os meus sonhos com a vitória que alcancei, mas a situação atual é totalmente diferente: Eu agora sou o vidente em busca da segunda etapa de evolução. A primeira tinha sido cumprida, reuni as forças opostas e ajudei alguém a se encontrar. Estava na segunda que era descobrir a noite escura da alma, essa mesma noite que a guardiã citou no nosso último encontro. Uma noite que era capaz de salvar ou condenar o indivíduo.
Retomo a caminhada vagarosamente, com o intuito de poupar forças, pois ainda era manhã e eu ainda tinha todo o tempo do mundo para me preparar para o reencontro com a guardiã, essa estranha senhora que eu ainda não conhecia direito. Quem era ela? Nem eu mesmo sabia, apesar de ter convivido por mais de sete dias com ela. O que eu tinha certeza é que ela tinha sido de grande ajuda para entender minhas forças opostas e reuni-las como eu fiz. Agora, eu não acreditava que fosse diferente e me sentia pronto para novos desafios e revelações, mesmo que para isso eu tivesse que me sacrificar. Afinal, o conhecimento tem seu preço e estava disposto a pagá-lo integralmente.
Continuo a caminhar a ritmo lento, mas, constante, ultrapassando a metade do percurso. De relance, olho para baixo e lá está meu querido arruado chamado Mimoso. Ao observá-lo e analisá-lo concluo que ele é muito importante para mim, pois foi exatamente nesse local que tive a minha primeira aventura: Viajando no tempo, corrigi injustiças, reuni as forças opostas e ajudei alguém a se encontrar. Os momentos que passei lá foram momentos de crescimento crítico, humano e espiritual que nunca vou esquecer. Lembrando-me de todos os fatos passados, penso que eu era justamente mais preparado agora por conta disso.
Passado algum tempo de êxtase, volto a me concentrar no meu objetivo, olhando fixamente o caminho que dá acesso ao topo da montanha. Neste momento, as pedras se mexem parecendo querer dizer alguma coisa. Será que eu estava indo para a perdição? Será que essa noite escura não seria demasiadamente perigosa? Bem, era o que eu ia tentar descobrir e já estava bem próximo disso, pois já ultrapassava 3/4 do trajeto. Este fato me trazia felicidade e isto era uma conquista da minha última aventura, pois exatamente na gruta me deparei com três portas que representavam felicidade, fracasso e medo. Pensando nisso, relembro que minha sabedoria foi decisiva para que eu escolhesse a porta da felicidade e desprezasse as demais. Desta feita, tomara que eu tenha a mesma inspiração.
Volto a caminhar e depois de mais alguns passos já me encontro bem próximo do topo, este mesmo topo acolhedor que da última vez realizei desafios. Foram três no total, e avaliaram a minha capacidade e competência. Só depois de passar nos testes da vida é que pude entrar na bendita gruta e iniciar uma aventura que culminou na reunião das forças opostas. Desta vez, acredito que não deve ser diferente, mas não tenho ideia do que me aguarda. Afinal, conheço bem pouco o tema em questão.
Reúno minhas forças restantes para continuar caminhando e tentar descobrir o inimaginável. Mais alguns passos e finalmente consigo chegar ao topo. Ao chegar, sinto o sol brilhar mais forte, uma brisa suave passa ao redor, e posso escutar claramente vozes alteradas. O que elas revelam é totalmente secreto e não posso revelar. Para ter acesso ao seu entendimento e conteúdo é necessário subir a montanha sagrada como eu fiz.
O novo desafio está lançado. Continuemos juntos, leitor.
O primeiro dia sobre a montanha
Acabo de chegar e este fato me deixa mais confortável. Olho no relógio de bolso e verifico que a hora do almoço se aproxima e imediatamente adentro na mata para buscar o que comer. Dentre as várias trilhas que se apresentam, escolho a mesma da aventura anterior a qual já é conhecida e com isso não corro o risco de me perder num topo extenso e enigmático. Alguns minutos depois, consigo vislumbrar uma bananeira e um coqueiro. Estou salvo, pelo menos por enquanto.
Aproximo-me mais e quando chego exatamente no local, subo na bananeira e no coqueiro com a mesma fé e garras que subi a montanha; recolho os frutos, desço, alimento-me e descanso um pouco. Entretanto, não me demoro muito, pois ainda tinha que procurar toda a madeira necessária para construir minha cabana. Esta era estritamente necessária para me salvar dos animais ferozes. Ao conseguir meu intento, retorno.
De volta, começo a construir minha morada, mas o tempo passa e nem sinal da guardiã. O que terá acontecido com ela? Será que ela não existe mais? Bem, se este fosse o caso eu estaria realmente perdido, pois ainda acredito que ela seja a chave ou pelo menos a seta que me conduza ao caminho tão desejado da noite escura da alma. Tento não pensar no pior e continuo a construir meu teto provisório e como já tenho experiência ele ficará bastante firme para eu ter segurança à noite. Com muita dedicação da minha parte, finalmente o meu teto fica pronto. Resolvo descansar um pouco, pois já era quase noite.
Alguns instantes mais tarde, um vento gelado sopra e eu tenho um mau pressentimento. O que estava para acontecer? Analiso o ambiente ao meu redor e ele dá sinais de que a montanha estava próxima de reagir à minha presença. Seria natural, afinal, eu estava pisando em solo sagrado, sem ao menos pedir permissão. Com todos os poréns, decido me trancar na cabana e esperar o outro dia, pois a noite já caía. Boa noite, leitores. Até o próximo capítulo.
A noite escura da alma
Eu me sinto feliz e tranquilo no topo da montanha sagrada que possibilitou os meus objetivos. O tempo é bom, eu estou sozinho, mas isto não me dá medo, pois aprendi a controlar esta fraqueza em forças opostas. Num instante, o aspecto da montanha começa a mudar bruscamente: O chão que estou pisando desaparece, eu começo a flutuar, nuvens negras se aproximam no céu e a cada momento uma angústia misteriosa sufoca meu peito. Concomitantemente, do lado norte, surge um grupo de índios liderados por Kualopu, o feiticeiro das trevas. À medida que eles se aproximam, as nuvens negras se aglomeram ainda mais no céu, encobrindo totalmente o sol, deixando o dia com o aspecto de noite. Observando a cena, escuto Kualopu pronunciar palavras ininteligíveis, como se tentasse expulsar as suas forças ocultas. Quando ele faz isso, as nuvens negras se movimentam rápido e encobrem todo o meu corpo. No mesmo instante, um círculo de luz se produz à minha volta, prendendo-me irremediavelmente. No momento seguinte, as forças gravitacionais são abaladas e uma espécie de túnel do tempo é produzido. Imediatamente sou empurrado de encontro ao túnel, e ao tocá-lo sou submetido a uma sequência de visões. Nelas, viajo para o mundo dos espíritos, mais exatamente para uma reunião entre os espíritos mais evoluídos. Na respectiva reunião, eles sentam, conversam democraticamente, especificamente sobre a divisão entre as forças opostas. No final, fica acordada a atuação de cada uma delas e os aspectos da escolha com relação à noite escura da alma. É bom destacar que nada disso é bastante claro, pois estes mistérios não são dados ao ser humano. Depois de terminada a reunião, um choro de bebê é ouvido e a vida acontece.
A infância é um período de descobertas e de encontro consigo mesmo. Neste período, a família tem um papel primordial na formação de cada indivíduo. Os pais têm o dever de ser o alicerce moral necessário para se construir pessoas justas e do bem. Falando ainda da infância, é também nessa época que os fenômenos extra-sensoriais estão mais aguçados. Em particular, minhas visões revelam alguns desses momentos: O vampiro da casa mal-assombrada, a mulher que sobe da terra para assustar, o morto que pede ajuda para encontrar a tão desejada luz, entre outros momentos. Em cada uma dessas situações surge o desespero do inexplicável e as perguntas que parecem não se calar. Estamos sós no universo? A porta entre os dois mundos está mesmo fechada? Quem tivesse as respostas sobre estas questões poderia escrever livros maravilhosos.
Já a adolescência e a fase adulta são os momentos mais adequados para solidificar os conceitos adquiridos na infância. É também a época das dúvidas e da esperança, em geral e em particular, no meu caso. Surge então um sonho: O objetivo de ser escritor. Começa com uma simples coletânea de trechos bíblicos dos livros do Eclesiastes, sabedoria e provérbios. Um tempo depois, advém a crise e surge então a visão de um médium. Logo depois, veio o desemprego e o início da noite escura da alma. Nesse momento, o círculo se quebra e entro em contato com tudo aquilo que me maltratou e me fez acreditar que eu não era um ser humano digno. As sombras da noite escura se fortalecem e vozes me condenam por algo que eu não tinha controle e que absolutamente não tive culpa. Eu me rebelo e grito bem alto: Eu também sou filho de Deus! Com esta atitude, a visão da noite escura passa e me sinto melhor.
Então começo a ver minha trajetória que me impulsionou até hoje. Saio de casa, animado com o último fio de esperança de ver o meu sonho realizado. Em busca do sonho, chego a Mimoso, subo a montanha do Ororubá e alcanço o seu topo, conheço a guardiã, o fantasma, a jovem e o menino; realizo desafios e finalmente entro na perigosa gruta do desespero, a gruta capaz de realizar os sonhos mais profundos. Dentro da mesma, driblando armadilhas e avançando os cenários, chego finalmente, com muito esforço a uma câmara secreta, onde me torno o vidente, um ser especial e superdotado, capaz de entender os corações mais confusos. Já praticamente pronto, saio da gruta e aí começa uma aventura inimaginável na linha do tempo. O meu objetivo na viagem era corrigir injustiças, ajudar alguém a se encontrar e reunir as forças opostas. O resultado de tudo isso é o livro de mesmo nome.
Depois de ver tudo isso, a sequência de visões é interrompida e novamente a noite escura se aproxima, e, com isso, o círculo de luz reaparece em mim e me leva a transpassar o futuro sem que eu o veja claramente. Rapidamente, chego ao final da linha, morro, vou ao julgamento, e a noite escura permanece ao meu redor. Na audiência, a noite reclama a minha posse por conta de todos os meus atos passados. O julgador ouve os argumentos e então fico na expectativa. Um instante depois, um abismo se abre aos meus pés e me suga ferozmente. Começo a cair velozmente num intervalo de tempo que parece ser uma eternidade. Quando estou quase no fundo, sou amparado por braços e mãos fortes. Olho rapidamente para o ser que me socorre, e é um anjo de belas asas. Em seu semblante está escrito: Arrependimento. Nós fazemos o caminho de volta e a noite escura já não tem nenhum poder sobre mim. Momentos depois chego ao Céu e vou viver em companhia dos seres mais evoluídos do universo, trabalhando com eles para manter o milagre da vida. E assim uma nova fase se inicia.
O primeiro encontro com a guardiã
Um novo dia aparece: os pássaros gritam, o sol surge e a brisa da manhã envolve todo o meu corpo e acaba por me despertar nesse ambiente místico que é a montanha sagrada. Neste exato momento, penso na noite anterior, concluindo que era uma noite para esquecer, pois não me trazia boas lembranças pelo fato do chão ser duro e o sonho inusitado que tive. O que a montanha esperava de mim? Acho que uma incessante vontade de vencer num tema que eu propunha a aprender mais e com isso evoluir. Tentando reunir as forças necessárias para isso, levanto-me, espreguiço-me, tomo meu café matinal, e vejo nada mais nada menos do que a guardiã da montanha. Os nossos olhos se encontram e numa análise rápida constato que ela parece mais jovem do que da última vez em que nos encontramos. Resolvo então iniciar um diálogo.
– Guardiã?! É a senhora mesmo? Estava lhe procurando desesperadamente.
– Eu sabia, mas desconheço o motivo. A que honras devo a visita do sonhador, filho de Deus, a quem não vejo há tanto tempo?
Antes mesmo de tentar responder, nós nos abraçamos imediatamente e isto me deixa mais tranquilo e confiante. Naquele momento, eu tinha a plena certeza de que poderia contar com sua ajuda para desvendar mistérios e responder meus anseios mais profundos. Depois do momento de euforia, nós nos separamos, sentamos em frente ao outro e reiniciamos a conversa.
– Eu vim procurar respostas sobre a noite escura da alma, um momento que já vivi há aproximadamente dois anos, mas que ainda me deixa muitas dúvidas e inquietações. Então pensei um pouco e conclui que a montanha que me trouxe tanta alegria no passado podia ser o recomeço duma nova jornada, instigante e perigosa.
– Entendi. Mas poderia me dar um conceito para o que você chama de noite escura da alma?
– Bem, apesar de não ter evoluído o suficiente, posso lhe dar uma noção básica. Noite escura é exatamente aquele momento em que nos desligamos do sagrado, de Deus, e só conseguimos pensar em nossas próprias vaidades. É um momento onde as trevas agem bastante e isto pode condenar ou até mesmo salvar um indivíduo.
– Uma definição apropriada, mas incompleta. Saiba jovem, que a noite escura é muito mais profunda do que imaginamos e somente os espíritos mais evoluídos são capazes de controlá-la e entendê-la realmente. Está disposto a se arriscar mais uma vez? Se estiver, acho que poderei ajudá-lo em seu caminho. No entanto, devo alertá-lo que não vai encontrar todas as respostas de que necessitas exatamente aqui. Vai ser necessário muita coragem de sua parte e disposição para enfrentar novos e imprevisíveis desafios.
– Eu farei tudo que a mestra mandar. Pode crer que estou disposto a ir fundo nesse tema, nem que para isso eu tenha que fazer sacrifícios complicados e difíceis. Bem, qual será o primeiro passo desta vez?
– Primeiramente terás que conhecer com profundidade os sete pecados capitais, pois são eles que geralmente abrem as cortinas das trevas. Comigo você terá três desafios, e se for aprovado passarás a uma segunda fase. No total são três fases para que alguém consiga finalmente compreender o sentido da noite escura. Esteja preparado, pois não será nada fácil. Além disso, tenho que informá-lo que quem percorre este caminho corre tantos riscos que muitos já perderam suas vidas nele. Ainda assim quer continuar? Se disser sim, saiba que seu primeiro desafio está marcado para hoje à noite.
– Sim. Eu pagarei o preço necessário pelo tão ardoroso conhecimento. Estou pronto.
– Passe bem o dia. Estarei de volta à noite.
Com essas palavras, a guardiã se despede amigavelmente. Começo então a me preparar para a noite. O que será que me esperava? Continuemos juntos, leitor.
A espera do desafio
Continuo me preparando, sem perceber o tempo passa e chega o meio-dia. A partir daí, concentro-me no almoço, pois já estava com fome. Pego os alimentos que trouxera da mata e começo a prepará-los. Ao iniciar, uma leve preocupação perturba, por um momento, os meus sentidos, e me pergunto: O que a guardiã quis dizer com a expressão “muitos já perderam a vida em busca de respostas”? Será que o sentido disso era totalmente literal? Bem, de qualquer forma eu estava plenamente disposto a correr os riscos necessários para alcançar o tão ardoroso conhecimento e respectivo sucesso na aventura. Pensando nisso, constato que desde a primeira vez que eu cheguei na montanha tinha demonstrado a coragem, força e fé suficientes para realizar os desafios e encarar os obstáculos até finalmente ter a permissão de entrar na bendita gruta do desespero que era, naquele momento, a minha última esperança de sucesso. Analisando melhor esta parte da minha trajetória, acabo por concluir que eu tinha realmente possibilidades de alcançar o sucesso. Afinal, eu me transformara no vidente, um ser superdotado de dons, capaz de transcender o tempo e a distância em busca dos objetivos.
Depois da breve análise, resolvo me concentrar somente no almoço e me alimentar. Imediatamente após, decido me deitar na cama improvisada que fiz, pois eu precisava de um tempo para me recuperar e reunir forças para o desafio da noite. Com o tempo, a sonolência finalmente chega e um sono restaurador me envolve completamente. Durante o meu repouso, tenho sonhos reveladores, mas, indecifráveis. Depois da turbulência de um deles, acordo, e ao olhar o meu relógio de bolso percebo que já é quase noite. Apressadamente me levanto com o objetivo de observar a noite e esperar o contato da guardiã.
Orgulho
Ao sair, o cair da noite me deixa mais ansioso e nervoso. O que eu iria enfrentar? Em que consistiria este primeiro desafio? Eram algumas das perguntas que pairavam na minha mente perturbada. No instante posterior, tento me controlar e reafirmar a minha decisão para mim mesmo, a de que eu enfrentaria todos os obstáculos, sejam eles o que forem. A estratégia parece dar certo, pois fico mais confiante e com muita disposição, com aquele instinto aventureiro de escoteiro da missão anterior. Fico feliz e prometo a mim mesmo que iria descobrir todos os fascinantes aspectos da noite escura da alma, tão perigosa e tenebrosa. Assim, decido entrar na cozinha da cabana com o objetivo de preparar um jantar digno de uma guardiã, apesar de todas as dificuldades. E me lembro dos gostos dela e decido fazer uma sopa como da última vez em que nos encontramos. Era necessário não arriscar.
Depois de alguns instantes, finalmente apronto a sopa, ao prová-la fico feliz, pois ficara deliciosa, na medida do possível. Apesar da fome, não me alimento, volto a sair em busca de pistas naquele céu tão estrelado, deslumbrando-me com o aspecto dos astros, e por um momento eles brilham mais forte, parecendo querer me dizer alguma coisa. O que seria? Fico a imaginar inúmeras situações, até que sinto um toque leve por sobre os meus ombros. Ao olhar para trás, deparo-me com a guardiã mais radiante e fulgurante do que nunca. Ela se antecipa e inicia o diálogo.
– Está preparado, sonhador? Hoje você terá a oportunidade de conhecer o início de tudo, a criação da noite escura da alma. Saiba que este é um momento especial e reservado a poucos.
– Acredito que estou, mas antes queria convidá-la para tomar uma sopa comigo.
– Sim, claro. Aproveito para dar as orientações que se fazem necessárias para que você possa encarar o desafio com possibilidades de sucesso.
Depois do sim da guardiã, imediatamente entramos na humilde morada, e, durante o trajeto, um silêncio inquietador perdurou, parecendo antever os perigos que eu teria que enfrentar. O que seria de mim desta feita? Eu me perguntava isso, pois estava começando a trilhar um caminho totalmente desconhecido e imprevisível. Pensando um pouco no meu caso, tento reacender a confiança, pois ela era importante para alcançar o sucesso. Relembro que sou vidente, que não tinha nada a temer, apesar de tudo, e continuo a caminhar ao lado da guardiã. Nossos passos regulares e seguros nos levam ao nosso objetivo, a pequena e improvisada cozinha daquele casebre de madeira. Ao chegar, ofereço a guardiã o único tamborete disponível e começo a servi-la. Nós nos sentamos frente a frente e reinicio o diálogo há pouco interrompido. Decido ir diretamente ao ponto.
– Bem, guardiã, como será exatamente este desafio?
– Você deverá sair daqui a pouco da cabana e percorrer o topo da gruta à procura dum sinal. Quando chegar o momento, terás quatro opções: A pura luz, a passividade, o arrependimento e a noite escura da alma. Se escolheres o caminho mais adequado, então obterás as respostas necessárias para o completo entendimento do surgimento da noite escura da alma. Esse saber é muito importante para sua evolução como vidente e como pessoa. Porém, deves ficar alerta, pois se por acaso escolheres o caminho errado, encontrarás loucura, sofrimento ou até mesmo a própria morte. Seja sábio como sempre foi e escolha descortinar o véu dos mistérios mais profundos do universo. Saiba que poucos tiveram acesso a este conhecimento.
– Como devo me preparar para superar este primeiro desafio?
– Primeiramente, reze bastante para alcançar a proteção celestial. Depois disso, use o seu bom-senso e sabedoria, como quando você enfrentou a escolha dos dois caminhos na aventura passada. Naquela época, existiam duas opções: O caminho da direita, o da luz, que também é o mais difícil por representar renúncias e escolhas difíceis. Neste respectivo caminho, o indivíduo enfrenta muitas dificuldades, mas conta com a proteção celestial e certamente este é o caminho mais adequado rumo à evolução, cujo objetivo final é chegar ao Pai. Já o caminho da esquerda, o das trevas, é o caminho mais fácil, largo, e pertence a todos que se rebelam ao chamado do Pai, à sua missão. É também um caminho de aprendizado, que deve ser conhecido, mas não praticado. Da outra vez, você fez a escolha certa e conseguiu controlar suas forças opostas e isto poderá ajudá-lo desta vez. Saiba que quem controla suas forças opostas é capaz de realizar milagres.
– Entendi. Caso eu escolha o caminho errado, as consequências poderão mesmo me atingir?
– Não se preocupe. Provavelmente nada irá acontecer se você seguir minhas orientações adequadamente. No entanto, deves ter muito cuidado, pois a grande maioria das pessoas prefere ignorar a existência da noite escura nesse momento e se revestem de um falso eu, perfeito e inatingível. Geralmente as pessoas que agem dessa forma acreditam ser melhores do que os outros, pensam erroneamente que estão mais próximas de Deus e não tem o bom-senso de se autocriticar e tentar melhorar como ser humano. Saiba que a noite escura desse tipo de pessoa é a mais perigosa de todas. Há ainda outros que trilham a noite escura sem se dar conta e sem se importar com as consequências. A cada erro cometido, eles se afastam mais da luz e a não ser que alguém os ajude, acabam caindo definitivamente na perdição. Estes são todos que se drogam nos vícios da carne e do espírito. Existe ainda um terceiro tipo que trilham a noite escura por certo período de tempo, até algo transformar suas vidas. Este fato pode ser um conselho, uma reflexão ou um acontecimento casual do destino. O fato traz o arrependimento que é uma das chaves para se salvar dessa noite tão perigosa. Além destes, há outros tipos de noite escura, mas que não são preponderantes. Tenha paciência e cautela para conseguir superar os seus limites, avançar no caminho do conhecimento e não cair nas armadilhas do destino.
– Obrigado. Depois dessa explicação posso concluir que a minha noite escura foi a do terceiro tipo. Nela fui submetido a diversas experiências que fugiram da minha compreensão. Por isto que voltei aqui e quero obter o conhecimento que me fará capaz de entender e analisar as diferentes noites escuras da alma. Isto é absolutamente necessário para a minha evolução pessoal e minha carreira.