Книга A Noite Escura Da Alma - читать онлайн бесплатно, автор Aldivan Teixeira Torres. Cтраница 5
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A Noite Escura Da Alma
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A Noite Escura Da Alma

– Quem é você? O que quer aqui? Olha, eu estava num sono reparador.

– Desculpe-me por incomodá-lo, mas vim aqui por extrema necessidade. Sou o enviado do espírito da montanha e meu objetivo é entender melhor sobre a noite escura da alma e com isso obter o conhecimento necessário a fim de prosseguir em minha iniciante carreira de escritor.

– Então você é o famoso sonhador que enfrentou a gruta e seu fogo. A guardiã já tinha me falado sobre seu caso. Venha, entre na minha humilde morada para nos conhecermos melhor.

Aceito prontamente o pedido e o acompanho. Ao entrar em sua residência, sinto os bons fluidos que emanam do local e isto me deixa mais tranquilo. Aproveito a entrada para observar os detalhes e vejo uma cama, um baú, uma mesa com cadeiras e quadros estranhos. Ele toma a palavra mais uma vez.

– Sente-se aqui (arrastando uma cadeira) e me conte sobre suas aspirações e buscas.

– Eu me chamo Aldivan, vidente, ou filho de Deus. Tudo começou há aproximadamente um ano atrás, quando cansado da rotina e da mesmice, resolvi fazer uma tentativa desesperada para realizar os meus sonhos quase impossíveis. A tentativa foi escalar uma montanha que prometia ser sagrada num fim de mundo. Ao chegar no local, a escalei passando por muitas dificuldades e obstáculos, mas finalmente cheguei no seu topo. Lá conheci uma estranha senhora que se denominou a guardiã da montanha e que me prometeu ajudar em minha busca. Neste caminho, realizei desafios, e ao ser aprovado, obtive o direito de entrar num local ultra sagrado, uma gruta capaz de realizar os desejos mais profundos do ser humano. Sem pensar nas consequências, entrei na mesma, enfrentei armadilhas e cheguei finalmente á Câmara secreta, local onde me transformei no vidente, um ser evoluído e capaz de realizar milagres no tempo e no espaço. Depois disso, pude então fazer uma verdadeira viagem no tempo, que foi um sucesso. Pude então controlar e reunir as forças opostas. Isto tudo representou apenas a primeira etapa no meu caminho de evolução contínua. Agora quero cumprir a segunda etapa, que é entender os mistérios dum complexo tema, a noite escura da alma. Por isto estou de volta e eu tenho a certeza que podes me ajudar de alguma forma neste caminho.

– Sua história é mesmo interessante. No entanto, devo alertá-lo que a noite escura é imprevisível e cheia de perigos. Saiba que muitos mortais já quiseram entender com profundidade a noite escura. Porém, todos fracassaram em algum momento e acabaram pagando um preço alto. Tem certeza que quer continuar?

– Eu estou ciente dos riscos, mas se eu não conseguir me libertar dos demônios da noite escura, não terei paz e nem poderei analisar imparcialmente as diversas noites escuras que porventura sejam reveladas. É absolutamente necessário continuar. O que devo fazer para conseguir superar os próximos obstáculos?

– Primeiramente, deves mudar-se para essa casinha, pois quero ficar ciente de todas as suas fraquezas e medos. Caso não os controle, eles poderão destruí-lo. Para as próximas três etapas vamos aperfeiçoar sua meditação e viagem astral. Com esse conhecimento aliado ao autocontrole, poderás sair vencedor das emboscadas da vida.

– Então devo voltar à cabana para trazer meus objetos pessoais.

– Vá logo, pois o tempo é curto. Você tem que passar por mais três etapas aqui na montanha.

Eu me despeço do hindu e começo a fazer o caminho de volta.

Aperfeiçoamento

O começo da caminhada me faz refletir e analisar o primeiro encontro com o hindu. Observei que ele é uma figura marcante, apesar de misteriosa. Além disso, ele se mostrou disposto a me ajudar e isso era o mais importante. Para percorrer o caminho das trevas eu precisaria realmente de auxílio de alguém mais experiente. Quais seriam os seus verdadeiros objetivos? Eu desconhecia, mas eles poderiam ser parecidos com os meus. E se tudo desse certo, nossos caminhos poderiam ser fortalecidos em busca da evolução. Evolução esta estritamente necessária na minha iniciante carreira. Só depois disso é que eu estaria apto a analisar imparcialmente os fatos da revelação final que eu estava buscando

Na aventura anterior, eu já tinha conseguido controlar e reunir as forças opostas. Com relação a aventura atual, o objetivo básico era ter o completo entendimento sobre a noite escura, fase a qual obrigatoriamente passamos. Neste caminho tinha cumprido três etapas, auxiliado pela guardiã e me sentia pronto para enfrentar as etapas com um novo mestre, o hindu. Com ele eu esperava superar todos os perigos, mesmo que eu tivesse que pagar um preço bastante alto pelo tão ardoroso conhecimento.

Por um momento esqueço um pouco as inquietações, medos e dúvidas, concentro-me mais na caminhada e no comportamento frente ao hindu. Depois de pensar um pouco, acho que deveria demonstrar segurança e tranquilidade, mesmo que não estivesse sentindo isso. Afinal, ele parecia ser um mestre rígido e autoritário com seus discípulos. Bem, o que realmente importava é que seus métodos eram eficazes, pois ele era o único a controlar os quatro últimos pecados capitais. Só me restava descobrir como ele conseguira tal façanha.

Sem pensar em mais nada, continuo caminhando. Alguns passos mais e já ultrapasso metade do percurso e isto me fazia mais feliz, pois logo chegaria à cabana que construí e me despediria do local em que tinha passado os primeiros dias sobre a montanha. A minha nova residência seria uma casinha de sapê ao lado dum desconhecido, um hindu que prometeu me ajudar no meu caminho. Esta tinha sido uma decisão exclusivamente dele, que eu ainda não sabia se fora a mais acertada.

Algum tempo e já me aproximo da cabana. Neste momento, uma leve angústia percorre o meu coração e sentidos, mas ainda não sei qual o motivo. Seria um pressentimento? Bem, era difícil definir. Naquele momento eu ainda me sentia perdido e confuso com os últimos acontecimentos. A única certeza que eu tinha era do meu objetivo principal: Continuar evoluindo em busca de entender o sentido e a profundidade da minha noite escura, da dos outros para só então ter a mente aberta para a revelação final. A fim de obter sucesso, eu estava disposto a fazer todos os sacrifícios necessários e o primeiro deles era morar na casa dum estranho, mesmo que fosse por pouco tempo. Bem, o hindu devia ter suas razões para essa atitude e minha missão, como discípulo, era ouvi-lo atentamente e tentar fazer o melhor possível para vencer as adversidades. Continuo avançando e finalmente chego à cabana. A primeira providência é arrumar minha mala. Depois de organizá-la, decido contemplar o local em que passei as primeiras noites sobre a montanha. Depois duma breve análise, concluo que ela é muito especial para mim desde a primeira vez que estive aqui. Neste intervalo de tempo, relembro as dúvidas, as incertezas e o medo que acabei superando ao entrar na gruta. Atualmente eu era um vidente rumo à evolução e ao sucesso. Mais algum tempo, despeço-me finalmente, seguro a mala e parto em direção a minha nova morada.

Faço o caminho de volta com tranquilidade e convicção. Eu estava totalmente disposto a enfrentar novos desafios e rapidamente chego à casinha de sapê. Sem cerimônia, entro nela e me deparo com o hindu, sentado em posição de meditação. Imediatamente, ele acorda do transe e me convida a sentar também. Eu prontamente obedeço e ele inicia o diálogo:

– Estava meditando com o objetivo de encontrar respostas sobre como você consegue encontrar coragem para enfrentar o desconhecido. Após analisar bem o seu caso, cheguei a conclusão de que não há resposta. Isto faz parte de seu próprio ser e é importante para o começo duma boa evolução.

– Eu também medito quando tenho tempo. Mas ultimamente não tenho feito porque as preocupações não me deixam com a mente limpa e tranquila.

– Pois saiba que a meditação é essencial para que você vença novos desafios. Além disso, ao observá-lo cuidadosamente, percebi que ainda não domina todas as técnicas da mesma. Como consequência não tira o proveito suficiente dos benefícios dela.

– Estou disposto a aprender. Mostre-me a maneira certa.

– Gosto de aprendizes dispostos. Siga-me, então!

Tratei de obedecê-lo prontamente, pois estava curioso para conhecer suas técnicas. Será que isso me ajudaria a trilhar um caminho seguro em relação a minha busca? Eu não estava certo disso, mas estava disposto a arriscar a fim de colher os resultados depois. Um pouco mais adiante, adentramos numa trilha estreita rumo ao norte do topo da montanha. Neste momento, vêm a memória o primeiro desafio e o aprendizado que tive ao realizá-lo. Descobri a origem da noite escura e o exemplo mais famoso de orgulho. Além disso, aprendi que a humildade é o oposto do orgulho e é o meio mais adequado para evoluir. Entre os exemplos de humildade que a história nos deu está Jesus, que nos ensinou que para sermos grandes precisamos servir aos outros. É isto exatamente o que pretendo ao trilhar o caminho da noite escura da alma. No decorrer do livro, como consequência dos meus atos, quero encantar corações e fazer muitos sonharem, fazendo-os esquecer, nem que seja por alguns instantes, as preocupações, as desilusões e as injustiças da vida. Com este objetivo em mente, continuo a seguir o homem que prometera abrir os meus sentidos e percepções, enfim, descobrir os segredos da meditação. Os nossos passos rápidos nos fazem avançar rapidamente e em pouco tempo chegamos diante da lagoa em que eu já tivera uma experiência. O mestre retoma o diálogo:

– Chegamos ao ponto que eu queria. Quem consegue meditar corretamente sobre a lagoa, torna-se capaz de transpor passado, presente e futuro. Este fenômeno ocorre porque a montanha é sagrada. Está preparado? Eu lhe direi como agir. Antes de entrar na água, concentre-se mentalmente com o objetivo de eliminar todo resquício de ódio, desespero ou desconfiança. Depois de obter êxito nesta fase, entregue-se completamente ao poder do desconhecido. Quando estiver pronto, serás capaz de caminhar sobre as águas e ao meditar terá as respectivas revelações. Venha, eu lhe mostrarei como fazer.

– Espere. Acho que não entendi direito. Devo me entregar ao poder do desconhecido? O que isto significa?

Sem dar qualquer resposta, o hindu entra na lagoa e imediatamente caminha sobre ela como se fosse um Deus. Quando ele chega exatamente no centro, acena para mim, chamando. Mesmo sem saber como agir, encho-me de coragem e resolvo arriscar, entrando na lagoa. Dou os primeiros passos e me decepciono comigo mesmo porque não consigo atingir o feito do mestre.

Recebo palavras de incentivo e continuo caminhando. Quando chego exatamente no ponto em que o mestre está, ele agarra a minha mão, e como se fosse um milagre, consigo ficar sobre as águas. Depois, coloco-me em posição de meditação e sigo as instruções do hindu. Ao fechar os olhos, sofro um impacto brutal das visões que se sucede. Vejo o início, meio e fim em poucos segundos. O início representa a concepção, o milagre que é a vida. Vejo o sopro do Criador vir de lugares longínquos e inacessíveis ao ser humano. Um pouco antes disso, vejo uma assembleia de anjos definindo a missão dos espíritos que hão de vir à Terra. Nesta respectiva reunião vejo fogo, luz e trevas em concílio. Já o meio representa a passagem do ser humano no plano terrestre. Estão incluídos nesta fase a infância, a juventude, a idade adulta. Na minha visão vejo a doçura dum menino que cresceu tendo experiências sobrenaturais que causam bastante medo e sofrendo injustiças na família e na sociedade. Apesar dos obstáculos e contrariedades, ele criou e manteve sonhos nobres e justos. Um deles é mostrar para o mundo o melhor caminho para se evoluir e atingir os tão sonhados sucesso e felicidades. Em busca desse sonho, O agora jovem arriscou diversas vezes, foi vencedor e no final se converteu no vidente dos livros, disposto a transformar vidas e encantar corações. Neste caminho, segue-se uma série de aventuras que acabam o consagrando. No final, completa sua missão com êxito e entrega sua alma às forças benignas do universo. Neste exato momento, as visões cessam e volto ao meu estado normal. Ao abrir os olhos, vejo-me ainda sobre as águas, sozinho, com o meu mestre às margens da lagoa. Com o susto, começo a afundar e então nado até a beira. Ao sair, sinto que já não sou mais o mesmo.

– Como consegui? Eu não entendo mestre.

– Eu explico. Você só precisava de um empurrão para andar sobre as águas, pois a descrença ainda estava viva em ti. Ao se sentir seguro, você relaxou e com isso teve sucesso. E aí? Viu o seu futuro?

– Eu o vi, mas não claramente. Deu para perceber que ele será belo e cheio de realizações. Acho que meu sonho é possível.

– Todos os sonhos são possíveis e o universo está disposto a ajudar. Infelizmente, poucas pessoas persistem em seus ideais. É nesse momento que acontece o fracasso e a decepção. Não se preocupe, o seu caso é diferente. Percebo que você tem tudo para estar entre os vencedores.

– Que bom ouvir isso. A minha vida inteira corri atrás do meu destino e saber que serei recompensado me deixa muito feliz e disposto a enfrentar novos desafios. Qual será a próxima etapa?

– Agora você tem que aprender a usar a viagem astral corretamente e isto será possível num local sagrado já conhecido. Trata-se da gruta do desespero, onde você iniciou o seu sonho da última vez.

– Tudo bem. Estou pronto. Podemos ir?

O hindu disse sim gestualmente e imediatamente partimos rumo ao lado oeste do topo da montanha. No início da caminhada, um silêncio inquietador pairou no ambiente, talvez antevendo os perigos que nós dois corríamos, pois, a gruta, velha conhecida minha, era realmente capaz de despedaçar sonhos e vidas. Eu pensava isso pela experiência da última aventura, onde ultrapassei armadilhas dificílimas. Penso um pouco sobre o caso e acabo concluindo que se não fosse meu espírito de aventureiro, eu não aceitaria uma proposta tão maluca.

O que será que me esperava? Um novo encontro com a gruta poderia mesmo me reafirmar como vidente e me transformar outra vez, no aspecto da viagem astral. Por outro lado, se fracassasse eu poderia me perder completamente e não realizar meus sonhos e projetos. Tento não pensar nessa possibilidade e continuo a caminhar, junto ao hindu, mas mais decidido e veloz. Com isso, percorremos rapidamente o trecho. E logo em seguida estou em frente de onde tudo começou. Controlo minhas emoções; avançamos ainda mais e paramos na entrada dela. Neste momento, o hindu repassa as últimas recomendações, se despede e diz que é melhor eu prosseguir sozinho a partir de agora. Entendo o seu lado e estou prestes a encarar um novo desafio. Agora era eu e a gruta, mais uma vez. Espero um pouco e caminho com convicção, adentrando na gruta. Inicialmente a caminhada é rápida, mas com precaução. Como era esperado, aparecem no caminho várias armadilhas, mas desta feita, diferentemente da última vez, consigo superá-las com facilidade, usando minhas artimanhas de vidente. Depois de certo tempo de caminhada, sinto-me cansado e aproveito para refletir sobre meus passos. Será que a gruta amoleceu ou até mesmo sentiu pena de mim? Ou eu estava mais preparado do que a última vez? Uma das opções era verdadeira, mas naquele momento eu não sabia qual. Depois de descansar, continuo a caminhada nas galerias da gruta, buscando um sinal ou pista do que eu estava procurando. Apesar de cada vez mais me aprofundar nela, nada aparece. Continuo a caminhar esperançoso e depois dum intervalo que não sei mensurar, pois o ambiente da gruta é diferente de tudo que eu vi, aparecem finalmente duas portas. Paro em frente a elas e me pergunto o que será exatamente que elas significam? Fico com dúvidas, pois o meu atual mestre não tinha me orientado nesse sentido. Sem saída, resolvo apelar para os meus poderes de vidente e depois de algum esforço consigo visualizar a aura delas, o que foi um grande feito. Com essa informação, soluciono meus problemas e descubro que uma representa a pura luz e a outra representa a noite escura da alma. Analisando as duas opções, verifico que o caminho da pura luz é o meu caminho, que representa renúncias e escolhas difíceis na vida de qualquer ser humano. Apesar disso, acredito que este não é o momento de escolhê-la. Já o caminho da noite escura da alma representa o puro conhecimento e o momento em que nos desligamos de Deus para só pensarmos em nós mesmos, em nossos egoísmos e vaidades. Excluindo o primeiro, acredito que este caminho vai me ajudar a entender o que se passou comigo um pouco antes de eu me tornar o vidente. Certo da minha escolha, abro a porta da esquerda (noite escura da alma). Ao abri-la, uma força sufocante me puxa para dentro e imediatamente tenho acesso a um amplo salão, pouco iluminado e triste, repleto de imagens de santos. Avanço em direção ao centro e consigo ler no piso uma frase. Ela diz: Escolha seu santo e boa sorte. Tenho várias opções: O santo dos desesperados, o santo das causas impossíveis, o santo dos oprimidos, o santo das viagens, entre outros. Analiso calmamente a situação e minhas necessidades. Não estou desesperado como da última vez que entrei na gruta, nem estou injustiçado. Estes santos não me servem. Estava exatamente ali em busca duma viagem além dos sentidos e tentar descobrir meus reais poderes. Eliminando as opções desnecessárias, resolvo ficar com o santo das viagens. Feita a escolha, toco no santo respectivo e ao fazer isso várias portas são abertas à minha frente e numa delas estava escrito: viagem astral ou espiritual. Sem mais nenhuma dúvida, caminho em direção da mesma e ao abri-la o inusitado acontece.

Rapidamente, os meus sentidos são despertados e num impulso meu espírito vagueia em tempos e espaços distantes. Nesta viagem, nada parece muito claro, mas posso vislumbrar trevas, sofrimento, confusão e muita dor. Vejo a bravura dum homem que luta consigo mesmo numa guerra infindável contra sua noite escura da alma. Nesta luta, vejo batalhas perdidas e ganhas ao mesmo tempo. Vejo também a noite escura se reforçando a cada deslize seu, e o desespero caindo sobre o miserável. Já no plano espiritual, vejo mundos em batalha pela alma desse homem. Há uma pequena passagem de tempo e vejo no final uma pequenina luz que pode ser a salvação dele. Essa luz é intensa e a noite escura se dissipa com sua presença, mas falta atitude por parte do homem. Será que seu arrependimento é mesmo sincero? A sua noite escura ainda se achava presente em seu coração? Antes de obter as respostas, a experiência termina e volto ao meu estado natural. A porta se fecha e me vejo de volta ao mesmo salão. Sem mais nada a descobrir, resolvo fazer o caminho de volta. Depois de alguns instantes, retorno às galerias e avançando rapidamente percorro em duas horas todo o percurso da gruta. Ao sair, reencontro o hindu e me aproximo para as primeiras considerações.

– E aí? Como é que foi? Encontrou aquilo que procurava? – Pergunta ele.

– A gruta me ajudou em certo sentido, mas ainda não respondeu às questões cruciais. Acho que tenho que continuar arriscando, seguindo este perigoso e tortuoso caminho de trevas a fim de conseguir chegar a tão desejada revelação final. Você continua me ajudando?

– Claro que sim. Com a meditação e a viagem astral que aperfeiçoamos, acredito que já é capaz de passar à próxima etapa, realizando mais um desafio amanhã. Por hora, é melhor voltarmos para casa para descansar.

Concordo com o meu atual mestre e começamos a caminhada imediatamente. Os passos iniciais são regulares, refletindo o estado de espírito de nós dois, de quem acaba de superar mais uma etapa. O que nos esperava a partir de agora? Eu nem imaginava, e era isso que fazia a nossa atual aventura tão especial quanto à primeira. Apesar de todas as dúvidas que ainda tinha, eu estava convicto do que queria e aonde queria chegar. Com essa convicção, apresso mais os passos e o meu mestre me acompanha na trilha. Desbravamos a distância que nos separava da nossa humilde casa em pouco tempo e ao chegarmos preparamos um lanche e depois descansamos nas nossas camas desconfortáveis. Neste momento, meus pensamentos eram preenchidos com as expectativas do próximo dia, que seria decisivo e definitivo na minha carreira iniciante de escritor.

Ira

Os primeiros raios de sol surgem, anunciando a chegada de um novo dia. Com a iluminação, os meus sentidos acabam despertando pouco a pouco. Tento levantar imediatamente, mas o peso das experiências do dia anterior acaba por evitar essa atitude de minha parte. Mesmo assim, não me conformo, reúno as minhas forças restantes e num impulso consigo finalmente levantar. Ao ficar em pé, espreguiço-me e me dirijo ao improvisado banheiro com o intuito de fazer meu asseio matinal. Ao chegar, entro, fecho a porta, dispo-me e começo a jogar água fria no corpo, reservada numa tina que eu mesmo enchera. O primeiro contato com a água fria me renova os ânimos e a disposição de continuar lutando por meus sonhos e objetivos. Tento simplificar as coisas da melhor maneira possível, fazendo um asseio corporal bem feito e rápido. Numa sequência de água e ensaboadas, termino de ficar completamente limpo, visto uma roupa limpa, saio do banheiro e vou tomar meu café da manhã. Chegando no que corresponde á cozinha, reencontro o hindu, que preparara tudo para o nosso desjejum, começo a me servir e a conversar com ele.

– Você se recuperou totalmente das façanhas de ontem? – Pergunta o mestre. – Olha, o desafio de hoje não é nada fácil, alerta.

– Para ser sincero, não muito. Porém, encontro-me muito disposto. Diga-me, resumidamente, como devo agir para angariar mais uma vitória neste próximo desafio?

– Primeiramente, você deve manter o seu espírito de luta e coragem. Segundo, use sua sabedoria e o aperfeiçoamento de ontem como armas para superar todas as adversidades. Seja firme e não perca a fé em nenhum momento. Só assim poderás sair novamente vencedor e como prêmio receberás o conhecimento completo sobre o quarto pecado capital.

– Entendi. Obrigado. Poderia dar também dicas sobre o local e horários exatos da realização desse novo desafio?

– Quanto ao local, não posso ajudá-lo. Siga sua intuição. Em relação ao horário, será as 08h00min da manhã.

Com esta resposta do hindu, observo o meu relógio de bolso e verifico que está quase no horário. Um leve estremecimento no corpo acontece, mas eu prefiro acreditar que vai ficar tudo bem. Apresso-me e termino o meu desjejum, despeço-me do hindu e saio imediatamente para cumprir mais uma etapa na minha carreira. Ao sair, começo a traçar meus planos e matutar sobre qual direção seguir. Instintivamente, decido pelo Nordeste devido ao fato de eu nunca ter percorrido aquelas bandas. Definida a direção, agora só me restava a postura. Com o intuito de ajudar minha mente, relembro os conhecimentos de outrora (os que eu tinha absorvido desde a aventura anterior até aquele momento) e o aperfeiçoamento que tive com a supervisão do hindu. Analisando com cuidado e imparcialmente, termino por concluir que eles tinham sido e eram muito importantes para eu me tornar o homem que eu era naquele momento. Por isto, eu deveria usá-los (sempre que fosse necessário) ao meu favor no decorrer desta trajetória (a noite escura da alma) e das próximas que porventura eu empreendesse. O leitor, neste momento, deve se perguntar: E isto seria o bastante para alcançar o pleno sucesso? Essa pergunta é demasiadamente difícil e seria um absurdo tentar respondê-la, no meu atual estágio de evolução como homem e como vidente. A única e absoluta certeza que eu tinha é que eu iria arriscar, por mais que fossem difíceis os obstáculos e o caminho que eu propunha percorrer.

Com essa certeza, avanço velozmente sobre a trilha que escolhi; um tempo depois, finalmente chego ao lado nordeste do topo da montanha. Continuo caminhando e logo à frente se abre uma clareira misteriosa e sem pensar me aproximo mais dela. Ao adentrar e chegar exatamente no centro encontro uma sepultura. Numa cruz ao lado leio a seguinte mensagem: Aqui jaz um oprimido. Impulsionado por uma força estranha que não sei explicar, toco na cruz. Ao tomar esta atitude, o céu escurece, as forças são abaladas, o topo da montanha treme e a noite escura da alma se concentra rapidamente ao meu redor. Depois de alguns instantes, surge um túnel acima de mim e imediatamente uma força suga o meu frágil espírito. Depois disso, uma espécie de viagem astral começa e, através de sua força e poder, viajo por tempos e espaços distantes por um tempo até chegar num local mais visível. Neste momento, o meu espírito se tranquiliza e como se fosse num filme tenho a visão correspondente ao quarto pecado capital: