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Por Ruas Empoeiradas E Solitárias E Outras Histórias
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Por Ruas Empoeiradas E Solitárias E Outras Histórias

Gift Foraine Amukoyo

Por Ruas Empoeiradas e Solitárias e Outras Histórias

Por ruas empoeiradas e solitáriase outras histórias
contos
Gift Foraine AmukoyoTranslator: Jordana Silva
Publicado porTEKTIME
© Gift Foraine AmukoyoPrimeira Publicação em 2018
Todos os Direitos ReservadosPrimeira Edição, Novembro de 2018

Dedicatória

Isso é para as pessoas que estão passando por caminhos difíceis e equilibrados para alcançar feitos de sucesso na vida. Tudo o que é louvável é o resultado de esforços resilientes.

Para meu avô,

Willie Awerije

Agradecimentos

Devo apreciar as pessoas que me inspiraram a escrever essas sequências de contos. Se não fosse por eles, esta cópia encadernada seria um esboço esquelético da ideia de um escritor. Eme Awerije, Augustina Usman Amukoyo, Egwolo Edith Amukoyo, Adeniyi O. J. Adewole (Arc), e meus amados pais, Sr. e Sra. Amukoyo. Seus notáveis contos populares fazem minha tinta fluir incansavelmente. Obrigada a todos.

Um

Ouro Adormecido

Azuka e seu namorado Jose tiveram filhas gêmeas. Um nascimento que a família dela havia aceitado, foi um erro e a deixaram permanecer na casa da família. Eles não a perdoaram quando ela teve outro par de gêmeos. Ela vivia com um vagabundo desempregado perpetuamente, que se mergulhou em jogos de loteria. Ele era um amante que não fez nenhum esforço para oferecer uma garrafa de Schnapps – um ritual de introdução formal à família.

Quando a maioria das meninas atingia a idade da puberdade, elas começavam a construir seu castelo. Elas imaginavam uma fortaleza dominante adornada com móveis magníficos. Elas se viam como princesas, esperando pelo dia em que seu Príncipe Encantado chegaria. Essas garotas construíam seu palácio no ar, onde os problemas humanos poderiam ser facilmente evitados.

Esse era o sonho da maioria das mulheres, mas o destino poderia ser desfavorável. Eventos infelizes podem ocorrer, obrigando a aceitação de circunstâncias esmagadoras e a assimilação de valores corrosivos.

A mulher abandonada sentou-se no chão nua, enquanto alucinava com suas fantasias da infância. Lágrimas se amontoaram nos olhos de Azuka enquanto ela observava seus filhos dormirem. Eram 2:44 da tarde e eles ainda não tinham acordado da noite passada. Pensando profundamente, sua consciência lutou consigo mesma sobre como os induzira a dormir com uma poderosa mistura de ervas. Ela tinha que fazer isso ou então estaria sofrendo desde a manhã, e eles, inquietamente infelizes. Era a única maneira de evitar que seus filhos acordassem com fome e zangados, como se tornou uma rotina diária por alguns anos.

Ela soluçou em seu trapo sujo, manchada de preto, o resultado do trabalho escasso que assumira de amarrar carvão para os clientes. Ela expeliu o catarro que bloqueava o nariz, e muco preto e espesso jorrou. Os olhos dela afundaram profundamente nas órbitas. Suas bochechas eram afiadas como ossos esculpidos. O pescoço dela enrugou como se estivesse no laço de um carrasco.

As crianças podiam acordar e chorar por comida. Eles estariam mais famintos por terem pulado o café da manhã e o almoço. O olhar em seus rostos famintos rasgaria o coração de Azuka, como fazia todos os dias. Ela não sabia em que porta bater.

– Meus vizinhos agora me consideram uma parasita. Onde vou procurar um emprego que pague melhor ou implorar por ajuda? – ela disse em voz alta.

O último salário que ela recebeu do emprego de faxineira, Jose fugiu com o dinheiro. Seu coração doeu irremediavelmente porque o proprietário exigiu o aluguel, que está atrasado a seis meses. Ele havia avisado que a estrangularia ou a faria se juntar a ele em seu negócio de empacotar lixo fecal até que ela pagasse cada centavo.

Os pais de Azuka a deixaram à própria sorte. Eles romperam laços com ela e as crianças. Ela não ousou pedir ajuda a eles. A lembrança daquele capítulo em sua vida a drenou. Completando a magnitude de seus problemas e a incerteza que zombava dela ao permanecer acordada, ela adormeceu.

* * * * * *

O quarto estava escuro. Algo sacudiu Azuka de sua soneca conturbada. Ela ficou de pé cambaleando e caiu no chão frio. Ela usou as mãos para procurar cegamente pelo telefone. Suas mãos o alcançaram sob a velha prateleira vazia de madeira da televisão. Ela pegou o telefone Nokia com lanterna. O telefone estava preso por elásticos para impedir que ele se desmontasse. Ela o ligou, a luz iluminou fracamente a pequena sala. Azuka olhou nervosamente para o relógio na parede. Ela ficou curvada em seus pés. O tempo permaneceu parado exatamente às 2:44 da tarde.

– Oh. Ainda é dia? – Ela checou o telefone para saber a hora exata. Já passava de onze da noite. Ela olhou para o relógio de parede novamente e concluiu que ele havia parado. Azuka pensou que, pela manhã, ela perguntaria à vizinha se ela tinha duas pilhas extras de sobra.

Um mosquito bateu nos ouvidos dela.

– Oh, esse demônio sugador de sangue deve ter extraído o pouco sangue do corpo dos meus filhos. Minhas mãos doem de bater neles até a morte. Também vou pedir inseticidas ao meu vizinho. – Azuka de repente largou o telefone enquanto sua mente ia para o paradeiro de seus filhos.

– Taiwo, Kehinde, Martha, Michael… – Ela correu para a porta, seu trapo velho solto. Suas nádegas magras que uma vez foram quadris curvilíneos ficaram expostas. A mão dela congelou na maçaneta da porta. Ninguém a tinha tocado. A única chave estava em seu buraco.

Ela correu para o canto da sala onde estava o tapete de dormir. Suas mãos caíram sobre os joelhos dobrados enquanto ela os chamava freneticamente. As mãos de Azuka bateram neles como se estivessem correndo em um teclado de piano para iniciar a música, mas cada figura estava imóvel. Eles não emitiram nenhum som enquanto ela se arrastava sobre seus corpos silenciosos.

– Taiye, acorde, Michael, mamãe está chamando, Martha, chame seus irmãos. Eu prepararei comida. Vamos procurar algo para comer. Eu prometo. Meus bebês, por favor, acordem para a mamãe. Acordem! – Não houve palavras ou movimento das crianças.

O choro que ela soltou ao sentir o frio dos filhos acordou a vizinhança. Os vizinhos se reuniram. Ninguém chegou perto para consolar a mãe enlutada que se deitou em seus filhos falecidos.

– Pelo menos agora ela tem apenas uma boca para alimentar – disse uma mulher.

Outro respondeu:

– Sim, apenas seu estômago para alimentar agora. Que Deus a console, e talvez sua família a aceite de volta, agora que as crianças se foram.

Mais vizinhos apareciam para dar os pêsames a Azuka. Ela soluçou e tristemente cantou uma música.

* * * * * *

Um ano depois, Azuka podia comer qualquer tipo de refeição que desejava. Ela consumia uma variedade de comida em que podia colocar os dedos. Refeições destinadas aos ricos e pobres estavam à sua disposição. Na lata de lixo de qualquer restaurante local ou exclusivo, ela satisfazia seu apetite. Azuka também servia grandes porções às crianças presas à sua cintura. As bonecas de borracha sem vida pendiam na frente das cavernas espessas de sua feminilidade.

Em uma noite sem estrelas, três homens escalaram silenciosamente uma calçada que abrigava várias lojas improvisadas, uma delas servia como morada de Azuka. Os homens levaram Azuka para uma fábrica de bebês disfarçada de maternidade.

Essas inclinações foram desafios criados pelo estigma social em torno da infertilidade e do pecado da gravidez indesejada na adolescência. Alguns casais procuravam um acordo de barriga de aluguel quando a gravidez era medicamente impossível, ou um casal homossexual desejava ter um filho. Algumas famílias ricas preferiam métodos clandestinos mais baratos como substitutos da barriga de aluguel e fertilização in vitro. Portanto, eles escolhiam a adoção por meio de serviços sociais e médicos obscuros.

As fábricas de bebês ganharam terreno como um grande negócio para alguns nigerianos de mente irreverente. Algumas dessas fábricas de bebês pareciam lares para órfãos. Outros se registraram como igrejas e casas de caridade, mas funcionavam secretamente como fábricas de bebês, onde as mulheres jovens eram violadas para dar à luz ninhadas para venda.

Eles distribuíam as crianças para adoção em famílias, traficantes que treinavam as meninas para se tornarem prostitutas, enquanto outras trabalhavam em plantações, minas, fábricas e como empregadas domésticas. Essas crianças acabavam crescendo como escravos torturados.

Mulheres com gravidez indesejada, presas entre dificuldades econômicas, estigma e pobreza, geralmente eram peões neste jogo. As principais vítimas eram geralmente jovens solteiras de famílias de baixa renda que tinham medo da estigmatização social. Durante a busca por clínicas de aborto, algumas dessas meninas chegavam à fábrica de bebês, enquanto algumas prisioneiras da fábrica eram vítimas de sequestro.

* * * * * *

Quando Azuka recuperou o controle de sua sanidade, ela aprendeu com suas colegas vítimas que a gerência a havia preparado para dar à luz um lote de bebês usados para rituais ocultos. Na sala de roupas de cama, onde ela aguardava o doador de esperma, Azuka viu seu antigo amante e pai de seus filhos mortos.

José ficou chocado no começo e depois envergonhado quando leu nos olhos liquefeitos dela todas as decepções e anos de turbulência, que ele havia feito Azuka passar. Ele hesitou.

Uma guarda gritou:

– Ei, Jose, apresse-se, penetre-a muito rápido, você ainda tem outras para visitar. Não perda tempo com aquela mulher louca.

Jose flexionou os ombros e tirou a calça. Azuka ficou imóvel enquanto ele entrava e saía com vinte e cinco golpes calculados. Ele cumpriu seu propósito e foi embora.

Jose se reuniu com a alta gerência. Ele insistia em que, dali em diante ele só acasalaria com a mulher se curada da insanidade. Como a agência não estava pronta para perder um fertilizante tão valioso, eles deram a Jose e Azuka uma suíte para morar. Eles deram à luz filhos e filhas vendidos para qualquer finalidade que a administração decidisse.

Dois

Por Ruas Empoeiradas e Solitárias

Sr. Oghenevwede segurou uma bengala e se lançou na cozinha. Ele bateu o ombro na porta e recalculou seus passos.

– Essa mulher não coloca minhas refeições na mesa. Ela chega em casa quando os galos cantam de manhã – ele murmurou para si mesmo.

Ele vasculhou a cozinha em busca de comida e encontrou um prato de sobras de feijão e pão no armário. Ele caminhou até a sala de jantar, colocou a bengala no chão e sentou-se para comer. Nesse momento, a senhora Oghenevwede apareceu cantando uma canção de adoração. Assim que avistou a refeição, ela xingou o marido com palavras cortantes.

– Vejo que o morcego pegou um pássaro pobre para comer.

– Bem-vinda de volta, minha querida. Espero que o sermão sagrado da vigília noturna tenha afundado profundamente em seu cérebro e ensopado seu coração com humildade?

– Eu sei que você possui uma língua vil e é por isso que sua boca é capaz de comer comida azeda – ela levantou o prato e cheirou a comida – esta é uma refeição desagradável para um desgraçado. – Ela sibilou e recolocou o prato na mesa.

Sr. Oghenevwede suspirou.

– Sou cego e amaldiçoado com uma esposa maliciosa. Não tenho escolha a não ser fazer essas refeições. Na minha condição, acho gostoso.

– Para que serve esse discurso? Não comece. Eu estou com fome. Com os olhos bem abertos, aposto que você ainda vai se alimentar de lixo.

– Mesmo que Deus queira devolver minha visão, eu não gostaria. Eu desejo nunca mais te ver. Você me deixou inútil.

– Oh, por favor, pare com esses teatros…

– Por que você se tornou vil?

Sem qualquer remorso, ela respondeu:

– Olhe para ele. Bebê chorão. Você pode chorar para as paredes ouvirem e eu não me importaria. Seu longo discurso só conseguiu me deixar com mais fome – ela bocejou.

Ela destrancou um freezer no refeitório com uma chave da bolsa. Ela pegou uma panela pequena de sopa, entrou na cozinha, aqueceu no fogão e preparou-se para uma refeição suntuosa enquanto olhava para o marido com um olhar venenoso.

* * * * * *

Tega entrou na loja de sua mãe. Ele estava vestido com uma calça e paletó combinando, camisa branca e gravata.

– Degwo, mamãe – ele cumprimentou sua mãe.

– Vre – ela respondeu e mediu um cliente.

Tega olhou por um tempo. Ele observou a mãe e os negócios dela. Ele deu uma olhada no relógio de pulso e pigarreou. – Mamãe, eu preciso de um favor, por favor.

– Fale, eu sou toda ouvidos.

Ele deu à mãe um olhar de desaprovação. – Aqui não, mãe, você pode me dar licença por alguns minutos? Vamos lá fora.

A senhora Oghenevwede olhou em volta da pequena loja: – Se você tem algo importante a dizer, fale. Você não pode ser tão idiota para não ver que estou muito ocupada – ela retrucou irritantemente.

Com um sorriso derrotado, Tega falou:

– Tudo bem então. Eu tenho um compromisso com um amigo. Eu preciso encontrá-lo na cidade.

– Você tem um compromisso com um amigo? Como isso afeta meus negócios? Você precisa de um acompanhante para ir com você ou precisa sugar mais leite materno para lhe dar cérebro para a reunião? – Ela deu a ele um olhar condenador.

Tega encolheu os ombros. – Eu estava pensando que você poderia me ajudar com algum dinheiro. O dinheiro que tenho em mãos não pode me levar para Warri.

Ela suspendeu a tarefa e permaneceu ereta:

– Como se alguma vez você tivesse dez kobos na sua carteira.

Suas palavras chocaram Tega:

– Mamãe, por que você é assim? Você não deixa de me envergonhar, dada a menor oportunidade.

– Vejo que você tem um vínculo com vergonha. Você e a desgraça têm laços de sangue.

O cliente ficou chocado com as declarações da senhora Oghenevwede. – Ma, oh, isso foi bastante duro. Na verdade, é desnecessário – afirmou o cliente.

A senhora Oghenevwede não prestou atenção. Ela foi violenta. Ela jogou o rolo de fita e o bloco de notas no chão. – Oh, meu Deus. Que erro foi feito para merecer essa perseguição. Eu tenho um homem adulto com masculinidade viril, com idade suficiente para manter uma esposa e ter filhos, mas ele vem tirar meu pouco kobo.

– Mamãe, o que você está fazendo? Por favor, você está nos envergonhando. Pare com isso.

– Não me venha com essa de mamãe enquanto você me mata devagar. Devo me tornar uma miserável às custas de você e do seu tolo pai patético?

– Mamãe, não faça isso. Não me faça perder a calma. Não me provoque a reagir de uma maneira que fará nós dois nos arrependermos.

– Cale-se. Você pode fazer o que quiser. Agora saia da minha frente. Deixe minha loja neste instante – ela empurrou Tega.

Tega apertou as mãos, soltou-as e saiu furioso. Ele desatou a gravata enquanto se afastava.

A mulher da loja de sua mãe andou rápido para alcançá-lo.

– Oi.

– Olá – disse Tega. Ele tentou acalmar sua raiva. Droga, estou fora de controle. Ele pensou e se sentiu mais desconfortável. O suor umedeceu sua sobrancelha. – Como posso ajudá-la – ele quase gritou as palavras para ela.

– Você não me conhece, mas eu sou cliente da sua mãe. Eu testemunhei a saga inteira lá atrás.

Em um instante, o semblante de Tega ficou na defensiva. Seus lábios mostravam irritação. Ela viu o constrangimento que estava no rosto de Tega.

– Confie em mim, eu vim como amiga. – Ela deu um sorriso deslumbrante para tranquilizar Tega de que não estava aqui para zombar dele.

O calor e a compreensão em seus olhos fizeram Tega relaxar:

– Sim, esse incidente que você testemunhou é o conto da minha família. Eu sei que é patético.

– Sinto muito por isso.

– Obrigado senhorita, senhora?

– Senhorita Clara… Mas é claro, você pode me chamar de Clara.

– O prazer é meu. Clara, obrigada pela sua preocupação.

Clara corou ao abrir a bolsa. – De nada. Aqui, pegue isso – ela estendeu um pouco de dinheiro; – Acredito que você terá um longo caminho até a cidade.

– Uau. Não posso agradecer o suficiente por esse gesto maravilhoso. Deus te abençoe muito bem, Clara. Obrigado.

– De nada, senhor?

– Tega, Tega é o meu nome.

– Tudo bem, Tega, é bom conhecê-lo.

– Igualmente, apesar de me desculpar pelas circunstâncias em que estamos nos encontrando.

– Está tudo bem, Tega. Considere isso como providência em ação. É minha esperança que você tenha melhores dias pela frente. Desejo-lhe um dia mais esplêndido e sucesso em todos os seus esforços. Tchau.

– Obrigado e tchau por agora. – Tega e Clara apertaram as mãos e foram em diferentes direções.

* * * * * *

Tega e seu pai estavam comendo à mesa quando a senhora Oghenevwede entrou na casa.

Ela atacou eles.

– Não me lembro de deixar comida na cozinha.

– Bem-vinda de volta, mamãe.

– Mesmo que nosso filho seja uma formiga, eu me tornei um rato?

Ela olhou arrogante:

– De onde essa refeição se materializou? Espero que nenhum de vocês tenha tocado meus alimentos?

– Estou falando com você, mulher. Pelo menos mostre alguma consideração por um homem que carregava vinho por sua causa.

– E daí se eu não tiver nenhuma consideração por um homem que tenha um barril miserável de vinho da palma para me arrancar do jardim florido de meu pai e me depositar em sua casa para bater em tanques como um escravo?

Tega ficou furioso. – Como se atreve a falar assim com meu pai? Cristo. Sua atitude é desprezível, mamãe, mostre algum respeito.

– Você vai ficar quieto, seu jovem idiota covarde. Quando os temperos escaldam em uma panela fumegante, uma refeição não preparada não se vangloria como um cardápio saboroso.

– Onde nos perdemos? Onde eu errei? – Oghenevwede lamentou e balançou a cabeça com total espanto.

– Pergunte a si mesma, miserável – a senhora Oghenevwede bufou e se afastou para lavar a louça do freezer.

Tega parou de comer. A situação doentia de sua família o preocupava. Sua mãe os considerava parasitas. A cegueira do pai o impedia de conseguir um emprego.

Tega não conseguiu um emprego remunerado para comprar provisões para a casa. O negócio de alfaiataria de sua mãe fornecia necessidades básicas. Isso fez dela a única provedora da casa. Ela os alimentava diariamente com o veneno da boca, em vez de sustento da bolsa. Houve momentos em que Tega pensou que nunca houve amor entre seus pais.

Ele largou os talheres:

– Oh, isso é um absurdo. – Ele cerrou os punhos.

– Acalme-se, meu filho, e por favor termine sua refeição

– Não papai. Eu perdi meu apetite.

– Você quer que eu perca meu apetite para comer e viver?

– Não papai – Tega pegou sua faca e garfo.

No dia seguinte, Tega e seu pai estavam tomando café da manhã.

– Papa, em breve não nos faltará nada. Se tudo correr como o planejado, pela graça de Deus voltarei para casa, com um emprego.

– Desejo e rezo para isso menino. Seu desemprego contínuo cessará neste dia. Aposto com a minha vida.

– Amém. No entanto, definitivamente não com sua vida, papai, Deus está encarregado disso. Papai, sua vida é mais preciosa para mim do que qualquer emprego que pague um bilhão de nairas.

– Amém. Esse é o meu filho. Desejo a você a melhor benção de Deus. Vá com cuidado.

– Obrigado, papai. Eu deveria ir agora. Não quero me atrasar.

– Mas é cedo. Se eu me lembro bem. Eles agendaram a entrevista para o meio-dia. São apenas oito horas.

– Sim, papai, mas é melhor eu chegar lá mais cedo do que tarde. Quero evitar o horário de pico e preparativos em cima da hora. Isso me deixa tenso. A espera na via expressa se tornou terrível.

– Sim, é verdade. É melhor você ir. Antes de sair, coloque meu telefone para carregar, por favor.

Tega pegou o telefone do pai da mesa e o conectou à caixa de extensão na sala de estar.

– Papa, está feito.

– Obrigado, meu filho.

Tega pegou as louças e foi até a cozinha. A senhora Oghenevwede o abordou. Ela fixou um olhar desdenhoso em seu elegante traje corporativo.

– Eu me pergunto o que estou perdendo nesta casa – ela perguntou a ninguém em particular. Ela apontou um dedo para Tega: – Ultimamente, você e seu pai estão aproveitando. Espero que você não esteja em atividades fraudulentas?

– E por que você faria uma pergunta tão imoral a nosso filho?

– É porque ele é o único que tem força para segurar uma arma de cano duplo. Você é um dodô fraco que não pode empunhar uma adaga – ela avaliou o marido – não vou dizer que você é o contador dele. Como um cego pode contar dinheiro? Seu único apoio será comer o resultado.

– Parece que você ficou louca – disse o senhor Oghenevwede.

– A forma como vocês dois estão jantando como rei e príncipe nesta casa deixa espaço para suspeitas. O que alguém pensaria conhecendo seu status de desempregado?

– O que você está insinuando? – o senhor Oghenevwede perguntou.

– Nada, só espero que ninguém venha me prender por um crime do qual nada sei.

– Você é impossível. Estou desapontado. Suas palavras são odiosas. O que meu pai e eu fizemos para você? Eu deveria sair daqui. Não quero que sua brincadeira repugnante estrague meu dia. – Tega entrou na cozinha. Ele lavou a louça e saiu de casa.

– Para onde ele está indo? O que vocês dois não estão me dizendo? Espero que você não esteja escondendo algo hediondo de mim.

O senhor Oghenevwede continuou em silêncio. Ele foi até a sala e sentou-se confortavelmente.

* * * * * *

Tega se aproximou de casa. Ele estacionou o carro de sua nova construtora do lado de fora. Ele queria surpreender o pai com seu novo emprego como motorista. Ele entrou na casa e viu algumas pessoas chorando enquanto outras tinham rostos tristes.

– O que está acontecendo aqui? Mamãe, por que essas pessoas estão em nossa casa? Diga-me por que as lágrimas e os rostos tristes?

– Oh, meu filho… – ela se jogou na cadeira. A senhora Oghenevwede chorou.

– Pare, mamãe, onde está o papai?

– Tega, é triste você ter que voltar para esse cenário. Tenha coragem, seja corajoso. – Um vizinho o consolou.

– Do que você está falando, senhor? Sobre o que você está tagarelando? Alguém pode se comunicar comigo em uma linguagem sã? Sobre o que é toda essa piada?

– Seu pai não existe mais – disse a Sra. Oghenevwede.

– Mamãe, eu não estou pronto para nenhuma das suas zombarias.

– Seu pai está morto. – Ela gritou.

Tega gritou e correu para o quarto de seu pai, seu cadáver coberto na cama. Ele abaixou a cabeça e gritou: – Não papai. Você precisa acordar.

A senhora Oghenevwede se ajoelhou perto de Tega. – Oh, meu filho, me desculpe. Você o amava demais. Isso é difícil para você, meu querido filho.

Tega virou-se lentamente para ver sua mãe. Ele enxugou as lágrimas com a palma da mão. – Sim, eu sei, você não precisa me lembrar. Eu era o único que o amava demais. Você o odiava muito.

– Não filho, não diga isso.

Ele falou devagar:

– Sim, você se importava muito. Eu fui testemunha. O que estou dizendo? – Tega riu dolorosamente. – Oh, apenas vá para o inferno, mamãe. Não adianta fingir agora. Você não se importava. Agora você deve estar feliz. Fique feliz por seu fardo ter diminuído. Se você acha que ainda tem um, não se preocupe, todos os seus fardos morreram. Todos nós fomos arrancados de seus ombros pesados.

– Não, meu filho – ela apertou as duas mãos na boca – não, meu filho. Por favor me perdoe. Não sei o que me possuía. Não me crucifique. Por favor, eu imploro a você. Eu sei que não era a melhor mãe e esposa. Por favor me perdoe. – Ela caiu no chão. Ela chorou em cima do cadáver. – Por favor me perdoe.

– Diga isso para as paredes, mamãe. Melhor ainda, você pode ir ao cemitério e gritar seu arrependimento.

– Por favor, meu filho, me perdoe. Eu amo vocês dois. Eu amei seu pai e ainda o amo.

– Como isso aconteceu, como meu pai morreu?

– Foi por choque elétrico.

– Meu Deus, ele teve uma morte horrível.

Ela esfregou as mãos como uma criança assustada.

– As torneiras dentro de casa pararam de funcionar. Eu tive que buscar água do lado de fora. Enquanto carregava a água para dentro de casa, algumas gotas caíram no chão. Eu ia limpar, mas isso me passou despercebido quando tive que correr para a loja e atender um cliente.

– Oh não, como você pôde mulher.

– Saí de casa às pressas. Uma cliente queria o vestido dela. Voltei para casa uma hora depois para ver seu pai, meu amado marido, com as pernas abertas no chão. Ele estava perto da caixa de extensão. Suas mãos colocadas no carregador do telefone. Era óbvio que ele estava indo pegar o telefone – seu pai foi eletrificado até a morte.