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As Lendas Da Deusa Mãe
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As Lendas Da Deusa Mãe

4. A utilidade dos mitos para descobrir os valores predominantes em uma sociedade.

Sob o termo “mitologia” incluimos uma das mais variadas produções do intelecto humano, caracterizada pela forma como define a concepção que uma sociedade tem de si mesma. Como muitos autores têm destacado, os mitos podem ter uma origem muito distinta: desde o endeusamento de personagens históricos, como apontado por Evhemero17 há muitos séculos atrás, a personificação de fenômenos solares, a expressão de experiências psicológicas, a representação das fases evolutivas das pessoas, a idealização dos processos históricos e muito mais. O mais importante não é a sua origem, mas a sua função socializadora que os transforma em adaptadores das pessoas à sociedade em que vivem.

Cito somente alguns autores que se dedicaram a estudar esse assunto, seguindo Juan Carlos Ochoa Abaurre em sua tese de doutorado18: “O mito configurou um modelo de comportamento que regulou a interação social, a forma de conhecimento do mundo e do além”; Creuze afirmava que o mito contém uma “misteriosa” verdade que abriga formas simbólicas de pensamento “natural”; “Von Schelling considerou...o mito como uma realidade que incide (e deve incidir) sempre e de maneira positiva no presente”; “Malinowski... interpretou o mito... como: “histórias que afetam decisivamente toda a sociedade”.

Ainda que normalmente vejamos a palavra “mito” associada ao estudo das culturas distantes no tempo e no espaço, diversos autores, entre eles Barthes19, apontaram a importância do mito na formação do suporte ideológico das sociedades modernas. Outros pensadores apontaram a influência do mito na formação de determinadas sociedades e culturas, de tal forma que, podemos afirmar que, qualquer que seja a sua origem e seu verdadeiro significado os mitos marcam e modelam as ideias e comportamentos da sociedade.

É difícil pensar que em uma sociedade onde, em cada uma das cerimônias mais profundas, se escute sobre a bondade de alguns deuses masculinos e a maldade de algumas divindades femininas, as mulheres possam alcançar um papel igualitário. Igualmente, é difícil imaginar que em outra, onde o louvor às deusas e às mulheres ancestrais estavam na ordem do dia, as mulheres tenham sofrido uma grande discriminação. A esse respeito disse Engels: “O papel da mulher nos mitos demonstra que nos tempos antigos a mulher gozava de maior liberdade e recebia mais respeito.”

De fato, o estudo dos mitos e culturas das minorias na China não deixa dúvidas sobre essas afirmações. Os trabalhos de Du Shanshan20, por exemplo, nos mostram que entre os Lahu, com sua manifesta igualdade, a criação é um trabalho de duas divindades, uma masculina e outra feminina. No entanto, também vemos no trabalho dessa outra autora que, de acordo com a própria sociedade Lahu, as mulheres estão perdendo a sua importância devido a influência da cultura chinesa, suas divindades criadoras estão se transformando em um só deus masculino, com o nome ainda composto, que prepara psicologicamente para futuras transformações.

Entre os Moso, onde a mulher ainda conserva um papel importante na vida social, descobrimos que sua divindade principal é uma deusa, Gemu. Outro conjunto de deusas governam as montanhas e as águas, monopolizando, como é natural, seu fervor religioso.

Ao apresentar aqui uma seleção de mitos nos quais a divindade feminina atua como protagonista, não podemos assegurar que todos esses povos adoraram uma grande deusa na antiguidade; e nem sequer, nos casos em que esse culto à deusa foi demonstrado, pode-se assumir que se tratava de sociedades matriarcais. No entanto, o conhecimento deles, dos rituais que estavam associados, e das culturas em que estão enquadrados, obviamente fornece diversos materiais para um debate posterior.

5. O valor dessa obra

Nesse livro incluímos mitos de povos que pertencem a cada um dos oito grupos etno-linguísticos mencionados antes, portanto, se não podemos demonstrar a universalidade do papel assumido pela deusa entre os povos da China, ao menos podemos demonstrar que em todos eles existiram deusas que, em determinado momento da sua história, desempenharam um papel relevante em seu universo mental. É possível perceber isso de imediato ao ler essa relação dos mitos apresentados nessa obra, classificados de acordo com os grupos etno-linguísticos e povos aos quais pertencem.

Grupo linguístico Povo Mito Sínico chinês chinês chinês Nuwa cria a espécie humana. O fim da era dourada das mulheres. A princesa Pargo Vermelha Zhuang-Dong Zhuang Shui Dong Dai Dai Dai Dai Miluojia. A deusa criadora dos Zhuang. A deusa Yaxian cria a humanidade. A deusa Shatianba cria o mundo A Mulher Pássaro. A Mulher Elefante. A Mulher Dragão. A Deusa do Arroz. Sino tibetano Jino Jino Hani Hani Nu Jingpo Yi Yi Yi Yi Pumi Pumi Lisu Baima Amoyaobai. A origem das oferendas aos ancestrais. A mãe Taporang. Ema, deusa dos Hani. A Deusa da Caça dos Nu. A deusa do sol. Canção dos antepassados do mundo. A origem da medicina Cuoriapu conquista o Reino das Mulheres. Shilaete tem um pai. A origem dos povos. A deusa Tana dos Pumi. Como os homens ficaram inteligentes. A filha do Deus do Lago. Miao-Yao. Bunu Yao Miao Miluotou. A deusa dos Bunu Yao. Criação do céu e da terra. Turco. Uygur A Deusa do Céu cria o mundo. Mongol Oiratos Mongol Maider cria o céu e a terra. A bondade da deusa. Man-Tungús. Elunchun Ewenki Manchú Manchú Manchú A Menina do Sol, origem dos Elunchunes. A lenda da criação do mundo. A guerra do paraíso. Baiyungege. Fugulun, mãe dos Manchúes Austronésico. Deang Deang Wa Wa Wa Bulang A origem dos ramos dos Deang. Histórias dos cinturões Deang. Oração à Deusa do Arroz. Os animais de estimação foram trazidos pelas mulheres. Como a mulher cede o poder ao homem entre os Wa. A Deusa do Céu.

Para a conveniência do leitor, dividimos os mitos desse livro em quatro seções:

- A deusa criadora, com os mitos em que a criação é protagonizada por uma deusa. Tanto a criação do mundo, como a da humanidade. Deixamos de fora, e são muitos, aqueles em que uma divindade masculina e outra feminina criam o mundo simultaneamente, geralmente com a deusa realizando um papel principal. Em muitos desses mitos, de fato, a origem das montanhas é atribuída ao fato de que, tendo sido encarregada a criação do céu pela divindade masculina e a terra pela feminina, a escassa diligência com que deus realiza seu trabalho faz com que a terra seja maior que o céu, que não pode cobri-la por completo, obrigando a deusa a franzi-la para diminuir a sua superfície e ser devidamente coberta pelo céu.

- A deusa civilizadora. Inclui mitos em que vemos como as divindades ou personagens femininos ensinam a humanidade a viver nesse mundo.

- Em tempos matriarcais. Aqui incluímos contos que nos falam do tempo em que as mulheres comandavam a sociedade.

- O fim das Amazonas é onde reunimos as histórias que nos contam como as mulheres perderam o poder na sociedade, que passou a ser dominada pelo homem.

6. Relevância desse trabalho no contexto atual

Vivemos em uma sociedade que exige dos seus integrantes fé de que o modelo que ela propõe é o melhor que se pode ter e o melhor que já se teve ao longo da história. Curiosamente, esse modelo não foi aceito de comum acordo pelos membros da sociedade, mas foi imposto de cima para baixo por suas elites intelectuais, e está sendo moldado a cada dia para se adaptar às necessidades financeiras das corporações que são movidas exclusivamente pelo lucro.

Uma sociedade estruturada em torno do lucro e da busca pelo benefício econômico imediato, acaba afastando as pessoas dos seus atributos, tornando-as unicamente consumidores. O homo consumidor já não é um homo religioso (no sentido amplo, preocupado com os mistérios da vida após a morte), nem um homo social (cuja realidade cotidiana baseia-se na relação com outros seres humanos). Diante da solidão da existência, uma pessoa já não pode mais recorrer a um deus ou ao seu irmão, mas a algum dispositivo concebido por uma corporação.

O homo consumidor, considerando o mundo como um objeto de consumo, chega à aberração de considerar a natureza e os próprios seres humanos da mesma forma.

A violência contínua contra as mulheres que não se expressa apenas no seu lado mais sangrento diariamente, é sem dúvida o resultado dessa sociedade. Essas graves consequências, que bastariam para questionar os fundamentos sobre os quais baseia-se a sociedade, são, de fato, considerados apenas desvios quase previsíveis e esperados. Talvez recuperar essa figura arquétipa da mãe, da deusa mãe, essa deusa criadora tão ligada a natureza, sirva para frear a violência extrema que essa sociedade aplica nas suas relações com a mãe, em seu aspecto de mulher e de natureza.

- Breve resumo sobre os povos mencionados nessa antologia.

Novamente agrupamos os povos da China em oito grandes grupos etno-linguísticos.

1. De idiomas sínicos.

Chineses ou Han

São em torno de 1.200 milhões de pessoas que vivem por toda a China, especialmente no centro e no leste do país. Nas regiões periféricas, especialmente no oeste da China atual, vivem misturados com outros povos, alguns dos quais são mencionados a seguir. É possível que tenham sido sociedades matriarcais antigamente. Há fatos que sugerem um papel mais elevado da mulher em tempos passados, como o caráter de “sobrenome” que se traduziria literalmente como “nascida mulher”. Ao longo da história chinesa o papel da mulher foi-se degradando, como acontece com os povos que estão sob sua influência cultural. Sobre eles traduzimos A criação da humanidade por Nuwa e algumas histórias locais que documentam o fim da dominação feminina.

2. De idiomas tibeto birmaneses

Neles é contínua a presença da mulher com papel relevante; o fim do poder feminino poderia ser traçado estudando a história de seus povos. Os reinos das mulheres que mencionam os escritos chineses clássicos, possivelmente foram de idioma tibeto birmanês.

Yi

Mais de sete milhões de pessoas que vivem no sul das montanhas de Sichuan e em toda a província de Yunnan. Diversos testemunhos históricos falam da existência de chefes mulheres entre eles. Têm uma escritura própria na qual se conserva uma rica literatura de caráter sagrado utilizada por seus xamãs ou pimos em diferentes cerimônias de culto à natureza. Em vários dos seus mitos de origem, a criação do mundo e da humanidade é obra de uma divindade feminina, como em Ahexinimo ou na Mãe Ancestral Xini, dos Yi de Yunnan. Sobre eles traduzimos alguns fragmentos que emprestam as contribuições femininas à civilização e duas histórias interessantes sobre o fim do poder feminino: Cuoriapu conquista o Reino das Mulheres y Shilaete tem um pai.

Nu

São em torno de 12.000 pessoas que vivem isoladas nas margens remotas do rio Salween (Nujiang na China). A Deusa da Caça, cuja história apresentamos aqui, é uma das suas divindades mais importantes.

Pumi

São em torno de 35.000 pessoas. Vivem espalhados nas montanhas no noroeste de Yunnan e no sudeste de Sichuan. Adoram à deusa Bajingjimu, em torno da qual eles construiram sua religião Dingba. Eles também acreditam no lamaísmo tibetano. Sobre eles traduzimos A origem dos povos, e A lenda da deusa Tana.

Hani

São alguns dos milhões de pessoas que vivem na província de Yunnan e em outros países do Sudeste Asiático. As genealogias dos Hani foram contadas por linhagem feminina até cerca de 30 gerações atrás. Seu festival mais importante, Amadu, agora proibido às mulheres, era dedicado antigamente à uma divindade feminina. Além do mais, conta com várias histórias em que a criação da humanidade é realizada por uma divindade feminina, como em A mãe Taporang ou em A deusa Ema, que apresentamos aqui.

Jino

São somente 20.000 pessoas que vivem em uma dezena de aldeias no extremo sudeste da China, na Prefeitura de Xishuangbanna. Há inúmeras provas da existência de uma sociedade matriarcal entre os Jino até poucas gerações atrás, como seu nome, que significa “descendentes do tio” e se refere ao papel do tio materno na sua sociedade, uma característica que ainda aponta a importância da mulher em sua família; ou o nome das suas aldeias que deriva geralmente de uma figura feminina ancestral. Diversas histórias narram o fim do poder feminino entre eles. Dos Jino traduzimos seu mito da criação (Amoyaobai) e o que explica o culto a uma de suas divindades, A origem das oferendas aos ancestrais.

Jingpo

São em torno de 130.000 pessoas que vivem perto da fronteira birmanesa (na Birmânia são conhecidos como Kachin). Uma das suas cerimônias mais importantes é celebrada a cada três anos em homenagem a Deusa da Terra. O mito que traduzimos, A Deusa do Sol, mostra uma divindade feminina preocupada com a igualdade entre as pessoas.

Lisu

Um milhão de pessoas que vivem no sudeste da China (província de Yunnan) e em outros países do sudeste asiático. Cada um dos clãs em torno dos quais a sociedade Lisu está organizada traça sua origem através de um antepassado ancestral. Alguns dos mitos e rituais apresentam características de um tempo em que as mulheres eram mais importantes do que os homens. As divindades dos rios ainda são femininas entre esses clãs. O breve conto que traduzimos, Como os homens ficaram inteligentes, nos mostra o momento em que as mulheres perdem seu papel dominante.

Baima

Também conhecidos como Baima zangzu, (Tibetanos Baima), ou Tibetanos de Pingwu (distrito onde vivem), é um dos grupos étnicos ainda não reconhecido oficialmente na China. São em torno de 10.000 pessoas com uma cultura antiga que faz relação com os povos Di que viviam na zona rural, há séculos atrás. Alguns autores asseguram que o Reino das Mulheres que mencionam nas crônicas da dinastía Tang foram constituídos por Baima.

3. De idiomas Zhuang –Dong

Os povos da família Zhuang-Dong ainda guardam um papel importante para as divindades femininas. Contudo, há grandes diferenças entre os que vivem nas regiões meridionais, cuja cultura foi profundamente influenciada pelo budismo theravada, e os que vivem nas regiões setentrionais (sempre dentro de zonas tropicais ou subtropicais) que conservam melhor seu mundo espiritual, tendo recebido mais influências da cultura chinesa. São todos povos das terras baixas, dedicados ao cultivo do arroz, que vivem perto da água.

Dong

São quase três milhões de pessoas que vivem em uma faixa que se estende pelo sul da China, ocupando parte das províncias de Hunan, Guizhou e Guangxi. Criou-se um grande debate em torno da sua criação sobre a origem e o desenvolvimento do culto à Shatianba. A verdade é que, seja ela originária da remota antiguidade ou se sua aparição é mais recente, ela impregna todos os aspectos da vida espiritual dos Dong, como testemunham seus templos das aldeias e sua festa principal celebrada em sua homenagem. Sobre eles traduzimos o mito A criação pela deusa Shatianba.

Dai

São em torno de 1.200.000 pessoas na China, com várias ramificações bem diferentes. Os povos relacionados com eles formam a população majoritária no Laos e na Tailândia.

O budismo chegou às terras dos Dai há quase mil anos. Desde então, mudou-se todos os aspectos da sua vida e cultura. No entanto, ainda são encontrados vestígios da cultura anterior, como a presença entre eles de mulheres civilizadoras, dos quais traduzimos vários contos e especialmente a história da Deusa do Arroz, que ilustra a adaptação sincrética realizada pelas religiões tradicionais e o budismo. Sua festa mais importante é o Ano Novo Dai, que relembra as façanhas de um personagem feminino.

Shui

Os Shui são 400.000 pessoas que vivem na província de Guizhou no sul da China. Entre os Shui descobrimos que a sua história da criação é protagonizada pela deusa Yaxian, cuja história traduzimos nessa obra. Além dessa deusa, há diversas divindades femininas que se encarregam, especialmente, de proteger a saúde das mães e seus filhos, e as que são convocadas em caso de doença.

Zhuang

São mais de 17 milhões de pessoas que vivem principalmente na Região Autônoma Guangxi dos Zhuang. No seu cotidiano há vários vestígios de um culto no passado às deusas e de uma simbologia genital feminina, como vemos nas suas cerimônias em homenagem às cavernas. Seu poema de criação é Buluotuo, que mostra um deus masculino. Nos últimos anos, as pesquisas trouxeram à tona uma série de escrituras sagradas chamadas Mo, tanto entre os Zhuang quanto entre os Buyi, que a partir da história da criação de Miliujia, que traduzimos aqui, apresentam um rico mundo espiritual de culto à deusa.

Entre os Buyi, intimamente relacionados a eles, existe uma complexa mitologia em torno da deusa, em cuja honra se celebram algumas das cerimônias mais importantes.

4. De idiomas Miao Yao

Miao

Cerca de 7 milhões de pessoas que vivem no sul da China e nos países do sudeste asiático. Os chamados Miao na China incluem ao menos 4 povos bem diferentes, que são, segundo Lemoine21: Hmong, A Hmao, Mhu ou Hmu e Qho Xiong. A maioria dos estudos realizados depois da fundação da República Popular da China misturam esses diferentes grupos em uma única entidade Miao, o que não facilita no que diz respeito ao conhecimento da cultura de cada um deles. A maioria do povo Miao, especialmente os Hmong, desenvolveu padrões culturais que dão mais importância aos homens, uma vez o culto aos ancestrais é mantido pela linhagem masculina, e esse culto é básico para o renascimento dos antepassados e, portanto, para a correta ordem espiritual da família e da sociedade. Ainda assim, identificam-se em seus mitos e lendas tradicionais diversos vestígios de um tempo em que o papel da mulher era o mais importante.

Entre os Miao de Wenshan (na província de Yunnan), as divindades femininas desempenham um papel preponderante na criação. Entre os Chuang Miao identifica-se a figura do principal ancestral como a primeira mãe.

A mãe borboleta, como criadora da humanidade, desempenha um papel importante entre alguns grupos de Miao.

Yao

Os Yao são um grupo de povos que vivem nas regiões montanhosas do sul da China e dos países do Sudeste Asiático. Cerca de 2 milhões de pessoas linguisticamente relacionadas com os Miao (Hmong), também compartilham com eles uma origem misteriosa que nem a linguística nem a mitologia conseguiram desvendar até o momento. Acredita-se que são provenientes das margens do rio Yangtze, mas como dissemos, sua origem segue sujeita a intensa especulação.

Supõe-se que a maioria dos grupos Yao têm uma origem em comum, embora não se descarte que, alguns povos incluídos entre eles não estejam tão relacionados assim como se pensa. De fato, os Yao geralmente cultuam seu ancestral divino Pangu, um cachorro que comete uma série de atos heroicos para salvar o reino, pelo qual é recompensando com a mão da filha do rei, com quem da origem aos Yao. Somente os Bunu não têm em sua mitologia a história de Pangu. A criação do mundo, entre eles, é a obra de um personagem feminino: Miluotou. Os Bunu são cerca de 400.000 pessoas que vivem na província de Guangxi.

5. Povos turcos.

Os Uygures, o mais numeroso dos povos turcos da China, vivem há 15 séculos na Rota da Seda, o que os permitiu receber profundas influências religiosas e culturais dos povos da Ásia Central. Zoroastrismo, budismo, maniqueísmo e finalmente islamismo, são algumas das religiões que surgiram nas terras atualmente habitadas pelos Uygures. A Deusa do Céu cria o mundo, é o mito que traduzimos, que sugere que no passado a mulher pode ter desempenhado um papel mais elevado na sociedade.

6. Povos mongóis

Há certos relatos históricos que sugerem o culto às deusas entre os mongóis. A importância que tem entre eles as udugan ou xamãs femininas (literalmente criadoras), faz pensar o mesmo. O mito de Maider cria o céu e a terra dos mongóis Oiratos é uma prova desses cultos antigos. A bondade da deusa também serve para ter uma ideia do importante papel que desempenhavam as deusas nas suas lendas antigas.

7. Povos Man Tungus

São povos que vivem nas florestas no sul da Sibéria e no norte da China. Eles possuem grandes semelhanças culturais, mesmo depois das transformações políticas que levaram os Manchúes a conquistar o trono chinês estabelecendo a última dinastia Qing, algumas características culturais variam muito. Em seus mitos mais antigos as deusas e divindades vindas do céu exercem o papel de protagonista na criação do gênero humano e no desenvolvimento da humanidade.

Manchúes

Oficialmente são dez milhões de pessoas que vivem no norte e nordeste da China, mas há somente alguns milhares que conservam os traços da cultura tradicional, os demais se adaptaram à cultura chinesa. No entanto, muitos de seus mitos e crenças antigas estão refletidos em documentos chineses. Os mitos que traduzimos, Baiyungege, A guerra do paraíso e Fugulun, nos mostra um olimpo que era tradicionalmente habitado por 300 deusas, e um dualismo entre as forças do bem, representadas pelas deusas, e as forças do mal, representadas por um diabo masculino.

Ewenki

Com apenas 30.000 pessoas são o último povo caçador da China. A lenda da criação do mundo, que apresenta uma série de motivos em comum com outros povos vizinhos, concede a uma deusa o protagonismo.

Elunchun

Com uma população de somente 8.000 pessoas, são um dos povos menos numerosos da China. A Menina do Sol, origem dos Elunchun é mais uma das muitas lendas que nos contam sobre a origem da humanidade a partir de um personagem ancestral feminino.

8. Povos Austronésicos.

Longe da cultura chinesa nas fronteiras distantes com a Birmânia, os povos que falam idiomas austronésicos receberam pouca influência chinesa, e tarde, geralmente na segunda metade do século XX. Oficialmente só existem três minorias nacionais de idioma austronésico: os Wa, Deang e Bulang. Mas cada uma dessas minorias tem tantas ramificações diferentes que podemos falar de alguns grupos étnicos. Todos eles compartilham importantes semelhanças culturais.

Deang

Vinte mil habitantes que vivem no sudeste de Yunnan. Sobre eles incluímos uma história que conta como surgiram as três ramificações dos Deang a partir de uma antepassada em comum, e umas lendas sobre o fim do poder das mulheres.